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amor silencioso

Na última parada antes da ponte Rio-Niterói, entra um casal no ônibus.

A menina vem se sentar no mesmo banco que eu. Baixa, branca, bonita. Pintinha nos lábios e flor nas sandálias.

O menino fica em pé ao seu lado. Negro, alto, bonito. Camiseta branca e boné vermelho.

Ambos surdos-mudos, ambos claramente apaixonados. Eles se beijam, se tocam, se gesticulam, totalmente absortos um no outro.

Junto com eles, entra também um mendigo de muletas, absolutamente imundo, incrivelmente fedido, definitivamente bêbado.

Senta-se do outro lado do corredor, em frente à menina, e começa a gritar impropérios sem dono. A zoeira é tanta que não consigo nem mesmo ler. À minha volta, todos estão visivelmente contrariados e incomodados. Rangem os dentes, tapam os narizes.

Enquanto o ônibus atravessa a belíssima baía de Guabanara, o mendigo gritando e os passageiros sofrendo, o casal se beija completamente impermeável ao mundo lá fora. Fechados em uma bolha de silêncio e amor.

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