a Outra Significativa não acredita em amor.
para ela, anarco-poliamorosa-sem-vergonha, o amor é um engodo que nossa sociedade heterocapitalista inventou para nos prender em casamentos monogâmicos possessivos, para nos fazer procriar criancinhas que logo vão virar consumidoras, para vender comédias românticas insossas que não passam no teste bechdel.
e eu, bem, também sou um anarco-poliamoroso-sem-vergonha e concordo.
mas acho que podemos ressignificar tudo, inclusive o amor. especialmente o amor.
* * *
um dia, faz dez anos, casei.
muito tempo depois, quando soube que o meu casamento era aberto, uma amiga que me conhecia bem exclamou:
ah, agora entendi. não é que você passou a ser a favor do casamento. você só mudou a SUA definição de casamento!
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não é que eu “acredito” em amor.
“acreditar” dá a entender que o amor é uma coisa ali externa, que existe fora de nós, que podemos escolher acreditar ou negar. como se fosse um objeto. pior, um produto.
pra mim, amor é, um dia, de repente, encontrar uma pessoa e gostar dela.
e, mesmo sem laços possessivos ou comprometidos, no dia seguinte, você quer ver aquela pessoa de novo.
pois te parece que ela é o tipo de pessoa interessante que fala coisas interessantes e anda com outras pessoas interessantes e que vai fazer coisas interessantes, e você quer estar por perto pra participar disso.
e assim os dias vão passando. e viram meses e viram semanas e viram anos. e aquela pessoa continua sempre interessante e você continua interessado nas coisas interessantes que ela vai dizer e que ela vai fazer.
e, mais ainda, todos continuam livres, livres para também encontrar e ouvir e conviver e amar outras pessoas interessantes, pessoas que adicionam conteúdo e valor a nossas vidas, pessoas que vão constituindo uma rede admirável de pessoas interessantes que orbitam umas às outras.
e, todo dia, zera tudo. todo dia, a escolha é refeita. todo dia, podemos decidir que, finalmente, deu. que aquela pessoa já contribuiu tudo o que poderia contribuir. que não vai mais dizer ou fazer coisas interessantes. ou que não temos mais interesse nas futuras coisas interessantes que ela pode dizer ou fazer. e ninguém seria canalha por isso.
mas, olha, sei não.
acho que a Outra Significativa vai fazer e dizer coisas ainda mais interessantes e incríveis em 2014.
então, por enquanto, vou ficando.
* * *
sim, o amor pode ser heterocapitalista monogâmico careta possessivo. aliás, quase sempre é.
mas não precisa ser.
eu não “acredito” em amor: eu escolho construir e inventar o amor como eu acho que ele deve ser.
* * *
em 2013, cancelei minha internet, abandonei celular e saí do msn, facebook, twitter. (o facebook e o twitter ainda existem, mas não são administrados por mim e não tenho acesso a eles.)
resultado: muitas pessoas que pareciam próximas simplesmente sumiram. não era amizade: você só era conveniente de conversar porque estava ali online. nada de mal nisso. fico feliz de ter podido ajudar enquanto foi possível.
mas, por outro lado, a falta das redes sociais te joga de novo nos braços das pessoas de carne e osso. daquelas dez ou quinze pessoas cuja presença concreta já basta para fazer da sua vida plena, interessante, bonita.
* * *
nessa reta final de 2013, muito obrigado à Outra Significativa por ser a melhor companheira que uma pessoa poderia desejar. admirável, fodona, generosa, aberta. interessante.
obrigado também a todos os seres incríveis que passaram por minha vida. que me fizeram uma pessoa melhor. que me ajudaram, que me acolheram, que me estimularam. que compartilharam suas vidas, suas intimidades, seus beijos, seus problemas comigo. que me possibilitaram:
heloísa, paula, ricardo, leonardo, cariocas que admiro muito e que nunca vejo tanto quanto gostaria. alessandro, camila, fernando, biajoni, isabel, katy, pessoas queridas de fora que eu gostaria de ter mais à mão. ana luiza e julia, que se afastaram mas de quem morro de saudades todo dia. diane, melhor ex-esposa possível e imaginária. renata, fernanda, antonio, carlos, meus amigos mais antigos. sônia e flávia, minhas irmãs queridas, que me acolhem mais do que ninguém. oliver, claro.
e a todos os seres incríveis que ainda não tive a chance de conhecer tão bem quanto gostaria e que, quem sabe, farão parte da minha vida em 2014.
obrigado.
Uma resposta em “acreditar no amor”
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