Se só pessoas que não mentem sobre si mesmas merecessem ser ouvidas e acolhidas, abraçadas e ajudadas, então, não sobraria ninguém.
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Às vezes, nos encontros As Prisões: Exercícios de Atenção, uma pessoa participante vem me questionar a veracidade da história de outra:
— Alex, você acreditou nisso que Fulana contou?
— Não.
— Arrá! Pois é, duvido que isso tenha acontecido desse jeito!
— Bem, não duvidei da história dela em momento algum.
— Ué, não foi isso que você disse?
— Eu não acreditei na história dela, mas também não duvidei. Não reconheci como verdade, nem rejeitei como mentira. Não imponho a mim mesmo o ônus de me posicionar criticamente em relação à veracidade das histórias que escuto.
“Aceito que, naquele momento, aquela foi a história que aquela pessoa escolheu contar, conseguiu contar. Se eu quiser ajudá-la, e estou lá pra isso, aquela história é o material que tenho para trabalhar. A veracidade dos fatos da história é completamente irrelevante.
“Vivemos e morremos pelas narrativas que criamos. Somos seres que projetam sentido em tudo. Quem sou eu para interditar a narrativa de uma pessoa sobre si mesma?
“Se só pessoas que não mentem sobre si mesmas merecessem ser ouvidas e acolhidas, abraçadas e ajudadas, então, acho que sobraria só você.”
(A Prisão Verdade é sobre isso.)