as pessoas que mais mandam são as que se sentem mais acuadas pela patrulha de quem não manda nada.
para quem faz parte do status quo e está acostumada a ser a opinião dominante e nunca interpelada, qualquer contradiscurso, mesmo marginalizado e quase impotente, é sempre visto como intolerável:
“feminismo radical”, “racismo reverso”, “ateísmo militante”, “ditadura gay”, etc.
o ideal é a feminista feminina, a negra que sabe o seu lugar, a atéia calada, a gay dentro do armário.
é fácil ser tolerante com a outra: basta ela ficar quieta e nunca me lembrar que existem no mundo opiniões diferentes das minhas.
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entendo as privilegiadas defendendo seus privilégios. não entendo a militante negra reclamando das feminazis, a ateia se insurgindo contra o racismo reverso, a gay incomodada pelas ateias militantes.
falta espelho e falta solidariedade.
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para chamar atenção para o sexismo da nossa língua, o texto acima usa o feminino como gênero neutro.
12 respostas em “a fácil tolerância”
Adorei o texto, também penso assim! :)
os seus pontos 2 e 3 são um amontoado de besteiras, mas fiquei curioso sobre o ponto 1. o texto não fala em gordos em momento algum, muito menos para dizer que gordos são minoria. vc poderia indicar de onde foi que tirou isso? abraços.
Falta informação. Não tenho vergonha em dizer que sou ateia e já fui contra as cotas para negros.
Até que li um livro sobre estereótipos e enxerguei o óbvio: a escravidão não deixou somente como herança perversa brancos que se acham superiores a negros. Mas deixou também negros que se acham inferiores aos brancos. Assim como o machismo de décadas e décadas e décadas deixou como pegadas mulheres que se acham inferiores aos homens. E isso é muito mais grave que o preconceito que parte do dominador. É uma ferida mais profunda que parte da vítima (muitas vezes sem essa consciência, o que só piora tudo). E nisso a parte que um dia foi dominada, ainda é o que era: vítima.
Com essa simples informação, mudei de opinião. E não me envergonho em dizer que mudei de opinião e acredito que ela seja o mais condizente com minhas crenças. Porque afinal opinião é isso: crença. Precisa de informação e de uma dose de boa vontade para ser modificada. Nem sempre temos um E outro.
;-)
Belo texto. Tapa na cara.
Eu sou e sempre fui gorda, e eu apoio qualquer movimento de minorias (menos os que nao gostam de outras minorias, tipo o FEMEM que nao aceita pessoas gordas) pq sei como é ser discriminada todos os dias da minha vida.
Há alguns meses atrás, vi um video no qual o mundo era “negro”(onde os negros tinham superioridade economica, cultural e populacional) e havia uma troca de lugares (a menina branca fazia trancinhas nos cabelos pra se ajustar à sociedade, ouvia bandas com músicos negros, tinha somente bonecas negras, etc) e esse video só me fez conseguir sentir de modo mais palpável como o mundo é injusto, não só comigo pelo fato deu ser gorda, mas com todos que se sentem humilhados, acuados e diminuídos diariamente.
Nao é fácil ser empático com outras minorias se voce nao olha pro outro, e acha que só os seus problemas sao reais. Nao entendo como um homossexual, que sofre preconceito todo dia, pode falar mal de gordo. Nao entendo como uma feminista pode falar mal de uma pessoa negra. Será que ela nao entende que, pra quem tá no grupo de pessoas que a sociedade considera “correto”, todo mundo que é diferente é pior e merece “menos”?
É tão incrível como os comentários exemplificam o seu texto, parece até que foi combinado. Outro dia uma amiga super defensora dos direitos dos negros estava reclamando veementemente que uma moça bem gorda estava ocupando um banco do ônibus. Infelizmente, tenho alguns amigos gays que são machistas e mais de uma vez já os vi declarar que “odeiam gordos”. Aliás, mais de uma vez pude observar grupos de pessoas que se consideram humanitárias que acham que ser gordo é ser um porco capitalista. Não consigo compreender como alguém que sofre preconceito de outros grupos não consiga desenvolver a empatia necessária para não praticar tais atos com outras pessoas. Ainda bem que existem pessoas como você, Alex.
Eu sou a favor da cotas para negros, contra as cotas para pobres e estudantes de escola pública, sou agnóstico mas acho que o ateu militante é quase ou tão chato quanto o evangélico. Nunca me incomodei com nenhum movimento gay, sempre respeitei e algumas boas vezes briguei com quem cerceava seus direitos. Existe o femismo e o feminismo, em geral eu não apoio o femismo, mas não li mto sobre isso pra falar a verdade, só algumas citações do SCUM manifesto…
Mas entendi que você está falando contra a repressão da liberdade de expressão, em Especial vindo de quem foi várias vezes reprimido….
O ponto principal é a falta de solidariedade de uma minoria contra outra minoria.
Um negro que luta pelas suas cotas que chama o ateu de militante, pq tá incomodado com o barulho dele.
fiquei muito triste com os comentários daqui =(
Sei não…
Não acho q pq uma pessoa q é por exemplo feminista deve necessariamente fazer coro com todas as outras linhas contrárias ao status quo.
Até pq não me considero racista, e tb não concordo com as cotas raciais, até pq qual o critério pra alguém ser considerado negro e merecedor da cota? teve até o caso de irmãos (gêmeos se não me engano) q um teve direito e o outro não… qual a justificativa disso? há algum critério objetivo de “negritude”? baseado em q? DNA? Cor da pele? (alguma coisa baseada na escala pantone por exemplo?) árvore genealógica (e quem tem a sua própria árvore traçada)?
Nos EUA as cotas raciais foram consideradas incostitucionais, mas existem outras formas de ações afirmativas bem mais inteligentes ainda q em alguns casos sejam tão subjetivas qto a banca da UnB q julga quem é ou não merecedor da vaga por cota racial.
Penso q critérios socio-econômicos e em especial nas universidades públicas uma cota pra quem tem mais tempo de estudo em escolas públicas seja muito mais justo. Até pq um negro q de classe média q estudou em escola particular já não precisa tanto assim de uma vaga numa universidade pública, já aquele q veio de um meio mais humilde, seja branco ou negro tem mais necessidade de uma universidade pública, gratuita e de qualidade pra conseguir vencer o ciclo vicioso de pobreza.
Pode ser um exagero pois quem consegue concluir o segundo grau mesmo em escolas públicas na maioria dos casos nem é tão pobre assim, afinal a pobreza cobra um preço muito grande no desempenho escolar e acaba levando muitos a ter q escolher entre estudar e trabalhar de sol a sol pra ajudar a família.
Melhor mudar o título para “O direito à intiolerância”, considerando comentário imediatamente anterior, ou ainda “O direito à intolerância isenta de maiores considerações”
não entendo as estereotipações das questões
“o militante negro reclamando das feminazis, o ateu se insurgindo contra o racismo reverso, o gay incomodado pelos ateus militantes”
“uma amiga gay que é radicalmente contra as cotas”
cada um com seu ponto de vista, as opiniões não andam em grupos
o ponto do texto é a frase irônica “o ideal é a feminista feminina, o negro que sabe o seu lugar, o ateu calado, o gay dentro do armário”
sinceramente, não deu nem pra entender a opinião do autor do texto (ainda bem) quanto às quatro questões (feminismo, racismo, religião e homossexualidade) abordadas
e aí? sou ateu militante e não gosto do movimento negro atual e das cotas raciais (acho que isso deve ser o racismo reverso)
não é todo mundo igual? pra que diferenciar?
eu deveria apoiar uma causa só por apoiar outra?
sou coerente, é o que basta
Outro dia me meti numa discussão interminável no facebook defendendo as cotas raciais, debatendo com uma amiga gay que é radicalmente contra as cotas.
Falta empatia. O Enfaticalismo de Emile Flostre.