Sobre o trabalho de artistas vivas, eu só falo coisas boas. As ruins, eu calo.
Tudo porque, um dia, lá pelos idos de 2004, cheguei em casa de uma peça, e, assim, sem pensar duas vezes, escrevi um texto detonando, todas críticas válidas, a peça era horrível mesmo, postei no meu blog e ainda fui dormir me sentindo levinho, dever cumprido!
Mas, aí, três dias depois, um moço entrou em contato comigo, 22 anos, estudando pra ser ator, era parte do coro, nem tinha fala individual na peça, e, mesmo assim, dedicou um ano da sua vida àquele trabalho, muito ensaio, muito canto, muita dança, muito sacrifício, muita dor no joelho, muitas coisas que não pôde fazer com a namorada, e que, depois de tanto esforço, chegar em casa e ler aquelas minhas palavras, foi duro, muito duro, caiu em lágrimas.
E é isso. Dá pra falar muitas coisas sobre o moço. Algumas pessoas amigas pra quem contei a história gostam de dizer: “se não aguenta crítica, não pode ser ator”, etc.
Mas não estou falando dele: ele faz o que quer e o que pode. Como todas nós.
Estou falando de mim.
Sim, eu tenho o direito de detonar a peça. Está lá na Constituição, u-lá-lá.
Mas preciso detonar a peça? É realmente necessário detonar a peça? O mundo se tornou um lugar melhor porque detonei aquela peça sofrível?
Por detrás de cada obra, das boas e das más, existem atrizes, roteiristas, escritores, figurinistas, etc, que se dedicaram àquilo com toda a intensidade.
Nem sempre o resultado vai ser bom. Acontece. A arte é assim.
Temos todas o direito, constitucionalmente garantido, de criticar quando alguém trabalha duro, se sacrifica, blá blá blá, e produz um resultado de bosta?
Temos. Se você acha que deve fazer isso, por favor, siga sua consciência.
Mas eu, em minha vida, como parte de minha prática artística e zen, escolho calar.
É o que tenho feito desde então.
* * *
Texto republicado sempre que consumo alguma obra de artista viva e sinto aquela tentação de falar mal nas redes sociais.
Se você está sentindo aquela tentação de me dizer o que você acha que eu deveria fazer da minha vida, te peço antes para ler o texto abaixo:
Exercer a não-opinião, um exercício de atenção
4 respostas em “tem uma pessoa do outro lado da crítica”
eu não tenho opinião sobre as coisas que você escolhe fazer. :) respeito. o texto é sobre a postura que adotei pra mim. :)
eu faço críticas construtivas em privado, para artistas que eu conheço e com quem tenho intimidade.
Mas nesse cenário, onde se encaixam as críticas construtivas?
Onde você vai saber que não agradou e que precisa melhorar se todos que não gostarem calarem?
Não seria melhor uma crítica negativa mas com parcimônia e educação, como forma de ajudar ao críticado a melhorar e não para detonar a vida dele?
Se for uma crítica construtiva, acho toda válida, não importa para que seja, se você fez uma crítica construtiva aquela peça, falando os erros e apontando possíveis soluções, acho totalmente válido, pois assim eles podem crescer como profissional, e que as próximas pessoas que vejam a peça, tenham um melhor deleite que você.
Você mesmo nas suas newsletter pede opinião dos leitores para saber se está no caminho certo, então, acho válido continuar criticando construtivamente, desde que não fale besteira, como por exemplo: eu falar mal de uma exposição de arte, xingar, falar que é lixo, não presta, é apenas um crítica inválida, pois não tenho nenhum conhecimento artístico.