Categorias
textos

ônibus errado

e assim, distraídos e felizes, ansiosos e talvez um pouco atrasados, atravessamos uma rodovia movimentada.

ontem, um homem foi atropelado na saída da ponte rio-niterói.

ele tinha pego um ônibus errado, saltou no primeiro ponto de niterói e tentou atravessar a pista para pegar um outro ônibus no sentido rio. foi atingido por dois carros e um terceiro bateu na mureta para não atropelá-lo.

e eu, que também já peguei a ponte por engano, quando estava tentando chegar no fundão para a defesa de mestrado da minha melhor amiga, isabel, fiquei pensando nesse pobre moço atropelado por dois carros.

ninguém pega ônibus errado no trajeto casa-trabalho-escola. ônibus errado é para os dias especiais, para os dias fora da rotina, quando estamos indo a lugares diferentes, quando estamos fazendo coisas que nunca fizemos antes. boas ou ruins, estressantes ou relaxantes. uma entrevista de emprego, um exame médico, um encontro amoroso. algo que ocupa nossos pensamentos, nos desconcentra o foco, nos antecipa o futuro. será que é maligno? será que ela gosta de violetas? será que vão me contratar?

e assim, distraídos e felizes, ansiosos e talvez um pouco atrasados, atravessamos uma rodovia movimentada.

9 respostas em “ônibus errado”

Ele definitivamente tinha os seus motivos assim como todos nós temos os nossos. É de extremo mal gosto o deboche até porque nenhum de nós sabe ao certo como vai morrer (na verdade ninguém sabe).
Se pensarmos a vida numa sucessão de eventos, decisões e pequenas atividades. Na verdade temos uma estimativa dos resultados possiveis e riscos para determinada atividade que é baseada na nossas experiências anteriores e fatos que vimos acontecer com outros.
Felizmente eu nunca fui atingido por um carro, mas certa vez caminhava pelas calçada direita em uma parte calma da rua Almirante Tamandaré, em Curitiba. Tinha um uno querendo cruzar a almirante e um gol descendo a baixissima velocidade por aquela rua. Então decidi andar uns 3 metros para dentro da rua que cruzava a Almirante (que era bem calma, e estava esperando o uno passar, quando seu motorista, ofuscado pelo sol, avançou e atingiu a lateral esquerda do gol fazendo-o girar em torno do próprio motor.
O Gol, descontrolado, subiu na calçada levando as placas e tudo até parar entre o muro de uma casa e uma árvore.
O detalhe é que regulamentarmente eu deveria estar perto das placas esperando para atravessar na faixa.
São pequenas decisões tomadas em segundos que muitas vezes tem grande impacto.
Por isso as vezes é melhor pensarmos bem no que vamos fazer, mas não devemos fazer escarnio de quem errou. Principalmente quando ele perdeu a própria vida pelo erro.

Vim parar aqui. Não atravessei a ponte, via facebook de amiga.
O texto é lindo, poético trata o trágico com delicadeza e dimensão humana.
Nos comentários li coisas crueis! Salve a lembrança – acima – da Iracema! A poesia nos cura de quase todos os males, sobretudo, o da insensibilidade.
É e esqueçam as malas pesadas, os editoriais dos jornais grandes.Escrevam com o sentimento da compaixão , a raiva deixem de fora.
A vida é um sopro, nos ensina o longevo Niemayer, o preço pago por ela, muitas vezes, é a distração. O não poder”estar” no tempo presente.
Quantas cargas pesadas podem ser levadas? Comemore o contratempo.
Bom, seria não mais se morrer, numa manhã…tentando chegar à algum lugar.

sempre, no ônibus, quando o sono não me atrapalha, eu fico pensando na história de cada um ali ao meu lado. tem gente que vejo sempre, e sei um pouquinho da vida, pelas roupas, pelos livros, pelos pedaços de história. sempre tem gente nova, também, e essas são as mais divertidas de imaginar situações mirabolantes.

pena que na vida real é tão diferente.

Putz, AQUI estão os comentários, mil perdões!
(fingindo que nada aconteceu, cá vai o comentário. vergonha total LOL)

Claro que ninguém sabe as razões e eventuais urgências desse homem, mas se já há tantas formas de se morrer “passivamente”, pra que dar sorte ao azar e se lançar ao risco desse jeito?! lamento muito, mas…

…isto sempre me ocorre: a rotina de certa forma conforta. Qd um incidente (acidente, que seja) acontece dentro de um intervalo de ações dentro de uma rotina, é mais assimilável, parece. Mas agora, possivelmente, a mãe dele, o pai, a esposa, filhos, amigos, sei lá, estão pensando algo do tipo “se ele não tivesse que estar lá naquele dia, estaria aqui”. louco isso.

S., ele nao saltou no meio da ponte. onde foi q vc leu isso? ele saltou no primeiro ponto em terra firme, na base de mocangue. nem tem como saltar no meio da ponte, o onibus nao pararia pra ele descer….

Olha, por causa desse moço tive q carregar 2 malas por 3 km e pegar a Catamarã em Charitas. Uma das malas inclusive não tinha alças e nem rodinhas. ¬¬
Qdo vc pega o ônibus errado desce em Niterói e não no meio da ponte. No centro tem mil ônibus que vão pra diferentes regiões do Rio e ele já havia pago 5,30, será q é tão burro assim e só foi perceber qdo já estava quase em Niterói?
E outra todo mundo sabe que a ponte é uma loucura de manhã, q idéia é essa de atravessar a pé? E se fosse turista, olha já fui e nunca desceria no meio da ponte.
Darwin agiu ai.

“A cidade não está preparada para a Copa” é um dos bordões antigovernistas programáticos de O Globo. Não que ela esteja, não que a Copa fosse uma prioridade para o Rio, não um monte de coisas, mas aproveitar a morte de um infeliz para fazer propaganda antigovernista realmente nos oferece a medida dos interesses e do profundo humanismo que sustenta a linha editorial de O Globo…