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a continuidade das mudanças

passo meus dias andando pelo rio, olhando e absorvendo tudo, sedento e feliz, identificando com atenção cirúrgica cada coisinha que mudou, cada marca que sofreu redesign, cada linha de ônibus com novo número.

é um alívio delicioso, sabe?

se nada tivesse mudado, teria sido apavorante e assustador. como se a cidade não tivesse existência longe da minha ó-tão-luminosa presença.

se tudo tivesse mudado, teria sido assustador e apavorante. como se a cidade tivesse somente me esperado virar de costas para se refazer sem mim.

então, nada pode ser mais acolhedor do que pequenas mudanças dentro de uma enorme continuidade. o novo metrô de ipanema, a futura ponte do fundão, a ausência do moinho marilu. o rio se faz meu até nas mudanças que realizou na minha ausência.

Uma resposta em “a continuidade das mudanças”

Eu senti a mesma coisa quando voltei pra São Paulo, depois de 2 anos morando em Porto Alegre. E senti também depois de 6 meses morando em Toronto… Nas primeiras semanas, ainda inebriada pela felicidade de ter voltado pra cidade que eu escolhi pra ser chamada de minha, que eu amo sempre e odeio de tempos em tempos, eu achei que era encantamento com as mudanças, com o novo dos detalhes nos novos lugares…
Mas passando o tempo, ainda com o encantamento, acho que quem mudou mais fui eu e a forma de enxergar o mundo e, mais ainda, aquela cidade. Como se eu tivesse olhando depois de anos praquele namorado que não valorizei muito, deixei pra trás e voltei a encontrá-lo depois de tanto tempo. Acho que tomar distanciamento pra depois se aproximar de novo nos faz aproveitar os detalhes que passavam despercebidos… Como olhar algo de bem perto, que aumenta o foco mas perde o formato do todo, a visão ampla com pausas para as entrelinhas…
É uma delícia ler a sua volta ao Rio…
Um beijo!

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