De homem para homem, algumas noções básicas e indispensáveis sobre feminismo.
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Você é a favor ou contra o feminismo?
Antes de tudo, vamos descobrir de que lado estamos, não? Existe um teste simples. Você concorda que:
- Mulheres devem receber o mesmo valor que homens para realizar o mesmo trabalho?
- Mulheres devem ter direito a votar e ser votadas?
- Mulheres devem ser as únicas responsáveis pela escolha de suas profissões, e que essa decisão não pode ser imposta pelo estado, pela escola nem pela família?
- Mulheres devem receber a mesma educação escolar que os homens?
- Cuidar das crianças deve ser uma obrigação de ambos o pai e a mãe?
- Mulheres devem ter autonomia para gerir seus próprios bens?
- Mulheres devem escolher se, e quando, se tornarão mães?
- Mulheres não devem sofrer violência física ou psicológica por se recusar a fazer sexo ou por desobedecer ao pai ou marido?
- Tarefas domésticas são de responsabilidade dos moradores da casa, sejam eles homens ou mulheres?
- Mulheres não podem ser espancadas ou mortas por não quererem continuar em um relacionamento afetivo?
Se marcou sim em todas ou quase todas… sinto afirmar mas… você é pró-feminista! Naturalmente, praticar e viver e defender o feminismo não se resume a dizer “sim” a esses tópicos, mas já é um primeiro passo.
(O teste foi adaptado de um original criado por Cynthia Semiramis.)
Machismo vs feminismo, a falsa dicotomia
Feminismo é a busca por direitos iguais para as mulheres. Machismo é a dominação do homem sobre a mulher. Os dois termos não são, nunca serão, não podem ser análogos. É uma falsa simetria. É como reclamar de não haver um dia da Consciência Branca.
Explicando rapidamente a diferença: uma camisa “100% branco” é de profundo mau-gosto, ao mostrar quem está por cima celebrando sua hegemonia. “100% negro”, por outro lado, é a celebração de uma identidade marginalizada tentando se afirmar contra todas as desvantagens inerentes no sistema.
O machismo, por definição, é antimulher mas o feminismo não é, nunca foi, nunca será antihomem. O inimigo do feminismo não é você, homem de carne e osso lendo esse texto, mas a estrutura machista da nossa sociedade.
Outro dia, um amigo me disse: “O feminismo levado ao extremo é pior do que qualquer machismo”. Mas quando é que o feminismo foi levado ao extremo? Vocês já viram mulheres pregando discurso de ódio aos homens, dizendo que os homens não deveriam poder trabalhar, votar, assinar contrato? Nunca vi ninguém nem mesmo defender isso, quanto mais aplicar no mundo real. Por outro lado, o machismo, em todas as suas vertentes, é aplicado todo dia, no mundo inteiro, em bilhões de mulheres. E, pior, o machismo mata.
Também tem gente que diz: “Não sou machista nem feminista, sou humanista!” Mas os três termos não tem literalmente nada a ver um com o outro: o machismo é um sistema de dominação, o feminismo é uma luta política por direitos iguais e o humanismo é o sistema filosófico materialista que coloca a humanidade em primeiro lugar — em oposição à deus e à metafísica. Não é nem que são termos opostos ou coincidentes, mas se referem a áreas completamente distintas. Seria como dizer: “Não sou nem paulista nem canhoto, sou engenheiro!”
Portanto, falar que “as feministas são tão ruins quanto os machistas” só faz expor o machismo de quem fala. A feminista mais extremada não tem como ser pior do que o machista mais brando.
“Homens e mulheres não são, nem nunca serão iguais!”
O feminismo não defende que homens e mulheres são biologicamente iguais, mas sim que devem ter direitos iguais. Muitas vezes, entretanto, só se alcança a igualdade ou equivalência de direitos justamente atentando para as diferenças. A expressão constitucional “todas as pessoas são iguais perante a lei” é mais corretamente interpretada: “tratar diferentemente as pessoas desiguais para que tenham acesso equivalente ao direito que a lei confere a todas as pessoas”.
(Vale a pena ler: Toda relação homem-mulher é assimétrica)
O machismo mata
Afirmar que as feministas são tão ruins quanto os machistas é como dizer que vítimas que clamam por justiça são tão incômodas quanto as criminosas. A principal diferença entre o machismo e o feminismo é bem simples: o feminismo pode ter todos os defeitos do mundo, mas ele nunca matou ninguém. O machismo mata. Todos os dias.
Dez mulheres são assassinadas por dia no Brasil, colocando-o no 12º lugar no ranking mundial de homicídios contra a mulher. Uma em cada cinco mulheres já sofreu violência de parte de um homem, em 80% dos casos o seu próprio parceiro. Em 2011, o ABC paulista teve um estupro (reportado!) por dia. Na cidade de São Paulo, uma mulher é agredida a cada sete minutos.
Para os homens, não basta simplesmente não estuprar: é preciso não alimentar a cultura do estupro. A violência contra a mulher não acontece num vácuo: ela é possibilitada por todo um contexto de piadas machistas, de objetificação feminina, de controle do corpo da mulher. Quem cria esse contexto somos todos nós, os homens. Somos todos cúmplices.
(Fontes dos dados da violência: sites Quem o machismo matou hoje?, Agência Patrícia Galvão e Homens pelo fim da violência contra as mulheres.)
“Mas os homens morrem muito mais vítimas da violência que as mulheres!”
Sim, em números absolutos, os homens são a maioria das vítimas de homicídio. A diferença é que quem está matando os homens são os próprios homens.
Quando uma mulher sofre uma violência, o agressor é geralmente homem. Quando um homem sofre uma violência, o agressor quase sempre é um homem. Com uma grande diferença: as violências que sofrem as mulheres geralmente são por ser mulheres. As violências que sofrem os homens nunca são por serem homens mas sim por serem homens pobres, por serem homens negros, por serem homens homossexuais, por serem homens trans.
O fato de os homens serem a maior parte das vítimas da violência não quer dizer que a violência não é machista. Quer dizer que, além de machista, ela é classista, racista, homofóbica, transfóbica. Enfim, outrofóbica.
Não minimize a dor da outra pessoa
Quando um amigo bate com o carro e se machuca gravemente, você…
- Minimiza o acidente dizendo que milhares de outras pessoas também batem de carro todos os anos?
- Dá um esporro nele por não usar cinto?
- Menospreza, dizendo, “ah, aposto que você estava correndo”?
- Puxa a questão pra você, choramingando “pior fui eu que caí de bicicleta”?
Se você não faz isso com seu amigo que bateu com o carro (estaria indo rápido demais?), que foi assaltado na rua (será que deu mole?) ou que tem câncer de pulmão (quem mandou fumar?), por que fala coisas semelhantes quando as mulheres reclamam das muitas violências que sofrem?
Vejo sempre: uma mulher junta toda sua coragem e determinação para falar e denunciar um estupro que sofreu e, imediatamente, diversos homens, consumidos por uma ansiedade latente para exculpar o estuprador, correndo para se colocar no lugar dele (“e se fosse comigo? e se eu fosse falsamente acusado de estupro?”) mas incrivelmente nunca no lugar da vítima, começam imediatamente a não só minimizar a gravidade do crime mas a também buscar maneiras de transferir parte da culpa para a vítima: “deve ter provocado”, “estava vestida de forma inadequada”, “se colocou em risco porque bebeu”, “não deveria ter ido à casa dele”, etc etc.
Quando mulheres reclamam de cantadas de rua, essa violenta e invasiva objetificação pública de seus corpos, os homens respondem com variações de:
“Olha, essa coisa aí que você sente na pele e que diz que te incomoda e te apavora, eu, que nunca senti isso na pele, estou dizendo que é pura frescura sua, que isso não tem nada de mais!”
Machismo é isso: achar que você, homem, é quem vai determinar o que assusta ou não as mulheres. Que você sabe, mais do que elas mesmas, a verdadeira gravidade dos problemas que as afligem. Se você nunca fez diálise e tem os rins perfeitos, não critique a pessoa que reclama de ter que filtrar o sangue todo dia. Tenha empatia pela dor do outro — especialmente se for uma dor que você nunca experimentou e, teoricamente, nunca experimentará.
“Não devo nada ao feminismo!”
Faz pouco tempo, Talyta Carvalho, filósofa e orientanda de Luiz Felipe Pondé, escreveu um texto chamado “Não devemos nada ao feminismo“. Em dado momento, ela afirma:
“Como mulher e intelectual, posso afirmar sem pestanejar: nunca precisei “lutar” contra meus colegas para ser ouvida, muito pelo contrário. … De minha parte, afirmo: não devo nada ao feminismo.”
Eu também afirmo: nunca precisei lutar para viver no Rio de Janeiro. Nunca. Jamais disparei um único tiro para ser carioca. Mas isso é só porque, entre 1555 e 1565, meus antepassados travaram dez anos de guerra feroz contra os antepassados dos atuais franceses para decidir com quem ficaria essa baía tão linda. Eu, pessoalmente, não precisei brigar pelo Rio… porque alguém, antes de eu nascer, brigou por mim! Se não fossem essas pessoas, sabe-se lá se eu existiria ou onde teria nascido.
Talyta Carvalho, em pleno século XXI, não precisa brigar para ser ouvida na universidade… porque gerações de mulheres, ao longo dos últimos duzentos anos, brigaram ferrenhamente para que ela hoje pudesse votar, se divorciar, cursar ensino superior, ter propriedade — direitos que elas mesmas, lá no passado, não desfrutavam.
Feminismo é a ideia radical de que homens e mulheres devem ter direitos iguais. Devemos muito a essa ideia, Talyta.
Brevíssima história das conquistas femininas no Brasil
Durante todo o século XIX, os direitos civis das mulheres são alvo de grandes discussões no Brasil — discussões que sempre terminam em escárnio por parte dos homens.
Algumas datas das principais conquistas: Só em 1827 as brasileiras ganham direito a cursar educação elementar. A admissão nas faculdades vem em 1879, seguida de muito preconceito. Quando a primeira médica brasileira se forma, em 1887, ela não consegue encontrar emprego: quem iria se tratar… com uma mulher?! A primeira brasileira a obter o direito de advogar vem somente em 1899. O direito ao voto somente é conquistado em 1932. A primeira senadora, uma suplente, toma posse em 1976. A primeira senadora eleita seria apenas em 1990.
Nosso primeiro Código Civil, de 1916, é bastante específico ao explicitar na letra da lei a tradição de inferioridade feminina. Nas palavras da professora Lígia Quartim de Moraes:
“Com o casamento, a mulher perdia sua capacidade civil plena. Cabia ao marido a autorização para que ela pudesse trabalhar, realizar transações financeiras e fixar residência. Além disso, o Código Civil punia severamente a mulher vista como ‘desonesta’, considerava a não virgindade da mulher como motivo de anulação do casamento (…) e permitia que a filha suspeita de ‘desonestidade’, isto é, manter relações sexuais fora do casamento, fosse deserdada.”
Ou seja, enquanto fossem casadas e submetidas ao pátrio poder, as mulheres eram consideradas incapazes juridicamente, como crianças e deficientes mentais, e não podiam agir como cidadãs livres e adultas, nem mesmo para assinar um contrato. Ah, e a lei do divórcio passa apenas… em 1977. Antes disso, o casamento era pra sempre.
A situação do esporte também é interessante, por ser outra área tipicamente masculina. A primeira partida de futebol feminino é disputada em 1921. Sete anos depois, as mulheres conquistam o direito de participar dos Jogos Olímpicos e o Barão de Coubertin, idealizador dos jogos, renuncia do comitê olímpico, revoltado com esse “absurdo”. Nas olimpíadas seguintes, em 1932, o Brasil manda sua primeira atleta, única integrante feminina da delegação, a nadadora Maria Lenk. Em 1964, acreditem ou não, o futebol feminino é proibido no Brasil, decisão que somente seria revogada em 1981!
Esse era o mundo antes do feminismo. Foi contra esse mundo que as feministas lutaram, e se insurgiram, e toleraram o escárnio e o deboche dos homens. Talyta Carvalho só pode cursar USP, votar e, caso seja casada, assinar um contrato ou terminar seu casamento, graças às conquistas dessas mulheres a quem não deve nada. Definição estranha de “nada”. Parece que deve muita, muita coisa.
(Referência: “As mulheres e os direitos políticos no Brasil“, de Augusto Buonicore, publicado no site Vermelho, e “Movimento feminista“, publicado do site do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da UFRGS. Recomendo também o livro O Voto Feminino no Brasil, de Teresa Cristina de Novaes Marques.)
O direito à escolha
Paradoxalmente, o foco do texto de Talyta Carvalho é liberdade de escolha:
“O ponto da discussão é: em que medida a consequência do feminismo, para a mulher contemporânea, foi o estrangulamento da liberdade de escolha? … Outro direito que a mulher do século 21 não tem, graças ao feminismo, é o direito de não trabalhar e escolher ficar em casa e cuidar dos filhos. … Na esfera econômica, é inviável para boa parte das famílias que a esposa não trabalhe. Na esfera social, é um constrangimento garantido quando perguntam “qual a sua ocupação?”. A resposta “sou só dona de casa e mãe” já revela o alto custo sóciopsicológico de uma escolha diferente daquela que as feministas fizeram por todas as mulheres que viriam depois delas.” (grifos meus)
Não sei bem qual é o círculo de amizades de Talyta Carvalho, mas várias e várias mulheres do século XXI, de todas as cores e classes sociais, fizeram sim a escolha por ficar em casa e cuidar dos filhos. Algumas das mulheres mais preparadas e inteligentes que conheço, educadas nas melhores escolas e universidades para serem líderes e cidadãs, exerceram livremente esse direito de escolha que, segundo Talyta, o feminismo lhes tomou. Não foram impedidas. Ninguém lhes cerceou.
Talyta parece não perceber a enorme diferença entre:
- O mundo de hoje, onde de fato há escolha, onde as mulheres podem trabalhar ou não, podem ser “do lar” ou não, e a prova disso é que todas conhecemos várias mulheres que trabalham fora, cuidando de suas carreiras, e também várias mulheres que trabalham em casa, cuidando do lar e da família, e
- O mundo antes do feminismo, onde as mulheres de fato não podiam, eram impedidas, não tinham o direito legal de cursar escola ou universidade, disputar esportes, votar e ser eleitas, advogar, clinicar, assinar contratos, etc. (Ninguém, no Brasil de 1880, conhecia mulheres médicas e mulheres não-médicas, porque não havia a possibilidade, entre outras coisas, de mulheres serem médicas — ou atletas, ou advogadas, etc.)
O feminismo não acabou com a escolha de ninguém. Pelo contrário, ele pegou um mundo onde a mulher não tinha diversas das escolhas acima e o transformou em um mundo onde a mulher pode escolher ser médica ou não, ser do lar ou não, ser nadadora ou não, ser orientanda de alguém como o Pondé ou não.
E, sim, como apontou Talyta, algumas vezes nossas escolhas geram “constrangimento garantido” ou tem um “alto custo sóciopsicológico” (sic) mas esse constrangimento e esse “alto custo sóciopsicológico” (sic sic) só existem porque existe a escolha.
Infelizmente, no mundo imperfeito das pessoas adultas, não existe nunca uma liberdade perfeita nem escolha 100% livre. As mulheres antes não enfrentavam o custo de suas escolhas porque enfrentavam o ainda-mais-alto custo de não ter escolha alguma. A liberdade de escolher traz consigo o ônus de lidar com os custos sociais da escolha. Um amigo cursou Artes Cênicas em vez de Direito, como teria desejado seu pai, e encarou o “alto custo sóciopsicológico” (sic sic sic) da cara feia dele por vinte anos. Assumi meu ateísmo e encarei o “constrangimento garantido” criado pela cara fechada da minha avó carola. Outro amigo decidiu não ter filhos e responde com paciência aos questionamentos de amigos e parentes. Etc, etc. Mas antes a cara feia da avó carola do que ser queimado como herege.
Talyta parece não perceber que o “constrangimento social” que ela aponta como prova do “estrangulamento da liberdade de escolha” é justamente a prova de que a liberdade de escolha não só existe como está sendo exercida em sua plenitude na arena social. Devemos tudo isso ao feminismo. Esses direitos não teriam sido conquistados sem luta, sem briga, sem sangue. Não vamos esquecer que, faz pouco tempo, um juiz absolveu um homem acusado de estuprar uma menina de doze anos “porque ela se prostituía”. (Ou seja, se a mulher aluga seu corpo por dinheiro a alguns homens, então sua sexualidade está livre pra todos! Mesmo se ela for menor de idade!)
Em nome da minha mãe, da minha irmã e da minha sobrinha, em nome de todas as minhas amigas, em meu próprio nome, que não tenho que viver na atmosfera sufocante do machismo do século XIX, eu agradeço ao feminismo.
“Não sou feminista: sou feminina! Sou vaidosa!”
Ao mesmo tempo, muitas amigas com quem converso também fazem questão de rapidamente se esquivarem do “rótulo feminista”: “Não sou feminista, sou feminina.” Como se isso quisesse dizer alguma coisa!
Existe uma lenda de que ser vaidosa é antifeminista. Que uma mulher feminista não pode ser “feminina” — não sei bem o que quer dizer isso, ou como seria possível uma mulher não ser feminina, mas enfim. É mentira.
Existem algumas feministas que preferiram abandonar alguns dos procedimentos tradicionais de beleza, por considerá-los imposição da sociedade patriarcal.
E, de fato, se você pára e pensa, muito do que é considerado parte intrínseca da beleza feminina, como saltos altos e unhas compridas, são nada mais que marcadores classistas de ociosidade. (Em outras palavras, ao usar saltos altos e unhas compridas, você está sinalizando que não trabalha nem com os pés nem com as mãos. Veblen explica.) Por outro lado, também existem muitas feministas que andam de saia, francesinha nos pés e bolsa de oncinha nos ombros. E por que não andariam?
Tanto patricinhas depiladas de chapinha nos cabelos quanto ripongas peludas de sandália de couro podem ser feministas. Não existe nada no feminismo que seja necessariamente anti-esmalte nas unhas. O feminismo defende direitos iguais e maior liberdade de escolha para as mulheres — e isso inclui a liberdade de pintar as unhas ou não, de ser juíza ou ser puta, de depilar ou não depilar, etc.
(Sobre consumo conspícuo e sobre a função econômica de unhas compridas e saltos altos, recomendo muito ler um dos meus livros favoritos, o brilhante e engraçadíssimo, Teoria da Classe Ociosa (1899), de Thorstein Veblen.)
“Essas feministas extremadas…!”
Amigo leitor, se existe uma atitude que você gostava de ter, uma palavra que você gostava de usar, e hoje você não pode mais por causa das feministas… se o discurso feminista te incomoda, se você se sente patrulhado pelas (sic) “feminazis mal-comidas”, se você mudou seu comportamento por causa disso…
Então, sim, talvez sem nem saber, talvez contra a sua vontade, vamos encarar os fatos, faça um pouco de autorreflexão, seja o advogado do diabo de si mesmo… e admita: Não é porque elas são chatas, histéricas ou extremistas. Provavelmente, os seus comentários e atitudes é que eram sim machistas. Mas não precisa ficar assustado: tem cura. Sugiro um exercício em autoquestionamento:
“Por que será que essa besteirinha que eu falo suuuuuper na boa incomoda tantas mulheres? Ok, é possível que elas sejam umas feminazis patrulheiras mal-comidas (sic sic sic!), mas também pode ser, quem sabe, que o problema seja comigo. Hmmm. *Mão no queixo para simular reflexão* Talvez as coisas que eu acho mais normais sejam altamente ofensivas para muitas pessoas. Talvez seria melhor se eu ouvisse mais os outros. Talvez eu devesse aproveitar essa oportunidade para refletir sobre mim mesmo, meu comportamento, minhas prioridades, minha vida…”
Entendo sua posição. É muito difícil ser subitamente acusado de machista. (E de racista, e de homófobo, etc, enfim, todas as vertentes da outrofobia.) Infelizmente, nesse momento, sob pressão, muitos homens simplesmente piram. Em vez de simplesmente baixar as orelhas, enfiar o rabo entre as pernas e ouvir, começam a falar uma besteira atrás da outra. Nada pode ser mais constrangedor do que ver um homem, até então sensível e sensato, se defendendo de acusações de machismo seja dando carteirada (“não posso ser machista porque escrevi isso ou fiz aquilo”) ou, pior ainda, acusando as feministas de serem extremadas, exageradas, doidas.
Ao reclamar da “patrulha das feministas extremadas”, por mais delicadamente que seja, você está apenas expondo seu machismo. E todo mundo está vendo.
Teste o seu machismo
Imagine que você tem um grupo de pessoas e quer descobrir quantas são alérgicas a uma substância. Pois bem, você pinga uma gotinha na mão de cada uma. Quem reagir à substância, ficar com coceira ou inchaço, é porque é alérgica. Por definição. Ser alérgico é isso: reagir a essa substância.
Pensem no feminismo como essa substância. Se você é exposto ao feminismo e fica com inchaço ou coceira na mão, se sente incomodado e patrulhado, precisa mudar seu modo de agir e de falar, então é porque seus modos de falar e de agir eram machistas. Machismo é isso. Não tem outra definição.
Se você acha que não, está em denegação. Mas a coceira na sua pele não te deixa mentir.
“Poxa, não sou machista! Até ajudo na casa!”
Estados Unidos, mesa grande, gente do mundo todo. O assunto: casa e filhos, homens e mulheres, machismo e feminismo. Então, um dos brasileiros, cheio de orgulho, afirmou: “Ah, eu sempre ajudo minha mulher com as tarefas domésticas.”
Para sua enorme surpresa, a outra brasileira da mesa, casada com um holandês e morando há trinta anos no exterior, carimbou: “Estão vendo agora porque eu sempre digo que o homem brasileiro é machista?”
O pobre brasileiro ficou transtornado. Não entendeu nada. Pensou até que fosse ironia. Que talvez ela não tivesse ouvido bem. Repetiu: “Está falando de mim? Mas acabei de dizer que ajudo minha mulher em todas as tarefas da casa!”
E respondeu o holandês: “Pois é. Ao dizer que “ajuda”, o que você está dizendo é: essa obrigação é só dela, mas eu, olha como sou tão legal e tão magnânimo!, até desço aqui do meu pedestal e… ajudo!”
E arrematou: “Lá em casa, nós dois dividimos igualmente as tarefas.”
Fábrica de machistas
Estava eu na casa de uma amiga quarentona, profissional, independente, decidida. Passamos pelo quarto do seu filhão pós-adolescente, de barba e bigode, e ela vê sua toalha de banho embolada no chão. Vai lá, pega, estica na corda, e ainda comenta: “Tsc tsc, igual ao pai!”
Que coincidência!, pensei. E, como não consigo ficar calado, disse: “Você já considerou a possibilidade de simplesmente não pegar a toalha?”
“E quando ele chegar da universidade e quiser tomar banho, vai se enxugar com o quê?”
“Bem, é justamente esse o problema, não é? Você não está dando ao seu filho a menor chance de crescer um homem autossuficiente e organizado. Ele larga a toalha embolada no chão e, quando chega da aula, ela está pendurada, esticadinha e seca no box. É como se fosse mágica. Por que ele mudaria seu comportamento? Pra ele, a situação está perfeita e resolvida.”
“Mas, Alex, se eu não catar a toalha, ele vai chegar em casa, vai direto pro banho, e ainda vai gritar de lá: ‘manhêêêêê, cadê a minha toalha?!’ E aí?”
“Por que não responder: ‘filhôôô, a sua toalha deve estar onde você deixou!’? Deixa ele se enxugar um dia com o tapete do banheiro. Molda o caráter e só faz bem.”
O machismo da nossa criação
Nossa sociedade machista e outrofóbica fala, existe, se perpetua através de nós, de nossos corpos, de nossa fala, de nossos preconceitos, da educação que todas nós, homens e mulheres, brancas e negras, ricas e pobres, damos aos nossos filhos e às nossas filhas.
Um casal meu conhecido obriga a filha adolescente a manter seu quarto pronto para receber visita do Rajá da Índia, enquanto o quarto do filho parece um depósito de lixo. Eu já sabia a resposta, mas perguntei mesmo assim. E responderam: “Ué, Alex, ele é menino! Não precisa ser arrumadinho.”
Em outra família, o filho de dezesseis pode trazer quantas namoradas quiser e ficar trancado com elas no quarto, estudando filosofia estruturalista, apreciando sua coleção de selos búlgaros ou transando como coelhos — os pais preferem nem saber. Já a filha, de dezessete, não pode nem falar em ter namorados. (Ou, pior, namoradas!) Dizem o pai e a mãe: “Ela ainda é muito jovem, os homens dessa idade não prestam, só querem saber da mesma coisa!”
E tenho vontade de perguntar: “Se não fossem irmãos, você aprovaria o seu filho como namorado para sua filha?” Se a resposta for negativa, é caso de reconsiderar a educação que estão recebendo.
Infelizmente, a grande maioria das mães e dos pais que conheço educa seus filhos e suas filhas exatamente assim. O estupro talvez seja o pior exemplo: estamos há séculos ensinando as meninas como se vestir e como agir – para a segurança delas, claro! Mas talvez fosse a hora de ensinar os meninos como não-estuprar. Quando ensinamos nossa filha a não usar saia tão curta, não é que estamos perpetuando uma prática milenar patriarcal de controlar o corpo das mulheres! Nãããão! É porque queremos o bem delas, pôxa!
Mas, dentre esses pais e mães que controlam as saias das filhas com tanta ênfase e tanto afinco, quantos já usaram a mesma ênfase e o mesmo afinco para controlar os hormônios e os impulsos dos filhos? Para ter uma conversa franca e aberta sobre estupro e escolha? Para ensinar explicitamente aos seus filhos homens que uma mulher embriagada, drogada ou incapacitada não tem como dar consentimento legal e, portanto, que o sexo deve ser deixado para outra noite?
Filhos e filhas vão levar para toda a vida as lições de machismo prático e outrofobia concreta que seus pais e suas mães lhes ensinaram. Alguns talvez consigam, a custa de muito esforço pessoal, apagar e superar esses ensinamentos perniciosos. A maioria, entretanto, em breve repassará as mesmas lições machistas para seus filhos e filhas e, assim, estarão perpetuando a cultura do machismo, do patriarcado, da violência contra a mulher, da desigualdade de gênero, da outrofobia.
(Sobre isso, leiam meus textos Toda relação homem-mulher é assimétrica e Cavalheirismo é machismo.)
“As mulheres são as maiores machistas!”
Nós todas, homens e mulheres, crescemos em uma sociedade profundamente machista e outrofóbica, que nos infectou desde cedo com seus valores e prioridades. Essa sociedade existe e fala através de nós: ela usa nossos corpos e mentes, nossa própria carne, para se perpetuar através do tempo e do espaço, e somos seus cúmplices e possibilitadores mesmo quando discordamos dela.
Quando escrevo sobre racismo, sempre aparece alguém para dizer (como se isso resolvesse a questão!) que os maiores racistas são os próprios negros. Idem com o feminismo: “Se as próprias mulheres são machistas, por que eu teria que deixar de ser?”
Devo mesmo entender tudo errado. Sim, muitas vezes, infelizmente, as próprias mulheres são cooptadas pelo machismo e se tornam porta-vozes de seus piores preconceitos. A outrofobia é tão forte que coopta até mesmo o objeto de sua fobia.
Entretanto, isso só comprova a gravidade e a urgência do problema: a mulher, quando se deixa infectar pelo machismo e se transforma em vetor da cultura machista, torna-se vítima e algoz, duplamente vítima. É como se o Aedes aegypti não só transmitisse a dengue, mas também morresse dela.
O machismo não é um problema individual
Nunca acusei nem jamais acusaria ninguém de machista.
Em primeiro lugar, porque é mal-educado apontar dedos. E, mais importante, porque o machismo ou não das pessoas individuais é irrelevante. Ninguém está inocente nesse tribunal, nem mesmo as próprias vítimas — que muitas vezes são algozes de si mesmas. Quem pode levantar a mão e jurar, de cara limpa, sua completa inocência?
Uma típica tática do deixa-disso brasileiro é definir machismo de modo tão restrito que a palavra se esvazia. Se “machista” for só aquele homem que ativamente vai e dá na cara da mulher, então os machistas não somos nós, os cultos e bem-educados, os que estão agora lendo um livro como esse, mas só aqueles brutos e rudes, lá longe, distantes. Aqueles que não somos nós. O machista é sempre um outro.
Por outro lado, instituir uma caça às bruxas aos “machistas” também acaba fazendo do machismo um pecado quase religioso, daqueles que se comete até em pensamento. Alguns homens vão dizer que não são machistas porque nunca bateram em mulher. Alguns vão dizer que são porque se sentem atraídos por mulheres que não consideram inteligentes. Dedos serão apontados para cá e para lá, e não estaremos perto de resolver a questão. Quem sou eu pra me arvorar em tribunal da inquisição e apontar meu dedo para dizer que Fulano ou Beltrano é machista?
O problema do Brasil não é o machismo individual de uma ou outra pessoa, mas o machismo estrutural, constitutivo, da nossa sociedade. Machistas somos todos nós, querendo ou não.
Como dizer para uma pessoa que ela soa preconceituosa
Nesse ponto, posso imaginar homens e mulheres fazendo a seguinte objeção: “Pô, Alex, se somos todos machistas, então ninguém é machista, problema resolvido! É isso mesmo que você está falando?”
Na verdade, não. Deixando de lado minha sanha classificatória ontológica de apontar o dedo para as outras pessoas, ou até mesmo para mim, e rotular obsessivamente, “você é isso”, “eu sou aquilo”, etc, o que concluí foi o seguinte:
Pouco importa o que a gente é (sermos machistas, racistas, homofóbicas, transfóbicas, etc, ou seja, outrofóbicos): o importante é o que a gente faz (termos atitudes machistas, racistas, outrofóbicas, etc). Todas nós, homens e mulheres, crescemos em uma sociedade outrofóbica. Somos todas, homens e mulheres, potencialmente preconceituosas. Corremos todas, homens e mulheres, o risco de termos atitudes machistas, racistas, homofóbicas, transfóbicas.
Por isso, exatamente por isso, devemos sempre vigiar não nossa pretensa “essência”, mas sim nossas simples ações cotidianas. São essas ações que moldam e definem a pessoa que somos. Ao tentar educar ou esclarecer ou dialogar com pessoas que tenham atitudes outrofóbicas e preconceituosas, evito levar a conversa para o lado do “você-é-isso”. Se interpelo a pretensa “essência” de uma pessoa (“você é machista!), ela já se blinda, se fecha a todos os possíveis argumentos e vai defender com unhas e dentes sua identidade e individualidade, em suma, sua “essência”.
Mas pouco importa quem essa pessoa “realmente-é”. Eu não tenho, nem nunca vou ter, acesso a quem ela “realmente-é”. Tenho acesso às ações e às palavras dessa pessoa e com essas ações e com essas palavras que vou dialogar: “Já se deu conta que esse seu comentário pode ser encarado como extremamente machista?”, “Percebe que ao fazer esse comentário está alimentando um clima homofóbico aqui na empresa?”, “Como acha que o Pedro, que é negro, se sente ao ouvir uma piada dessas?” etc. Ou seja, em vez de falar sobre o que a “pessoa-é”, tento falar sobre o que a “pessoa-fez”, sobre o impacto de suas ações no mundo, sobre o impacto de suas palavras em outras pessoas.
Essa tática não é, de modo algum, pegar leve com as pessoas preconceituosas e outrofóbicas. Pegar leve, pra mim, é se perder em uma discussão ontológica vazia de “você é isso” e “você é aquilo”, que gera ânimos exaltados e saliva derramada, mas raramente consegue mudar atitudes. Pelo contrário, eu procuro interpelar, criticar, chamar a atenção para cada fala ou atitude outrofóbica que vejo.
Mas o foco do meu ataque é a atitude ou a fala preconceituosa, não a pessoa que a fez, ou, menos ainda sua pretensa essência. Para mim, nada poderia ser mais pró-ativo e combativo do que isso.
“Feminismo é coisa de mulher”
Não é verdade. A luta por direitos iguais entre homens e mulheres interessa a ambos os gêneros. Ao libertar as mulheres, o feminismo também liberta o homem da sufocante obrigação histórica de tomar sempre a iniciativa, de estar no comando, de ser o provedor, de ter que ganhar mais. O feminismo é antes de tudo uma luta por direitos humanos. A nossa espécie enquanto espécie não pode ir pra frente enquanto metade for escravizada pela outra metade.
O corpo é dela
Se você esquecer tudo desse texto, lembre-se apenas disso. É a diretriz primeira.
Pior que não poder votar, não poder trabalhar, não poder dar opinião, pior que tudo isso é não ter autonomia sobre seu próprio corpo. Na prática, autonomia sobre o próprio corpo é o que distingue, de um lado, as pessoas adultas racionais responsáveis e, do outro, os bichos, as crianças, as pessoas incapazes… e as mulheres!
Nós, homens, desfrutamos de total autonomia sobre nosso corpo. Ninguém nos diz o que fazer com ele. Podemos fazer ou não vasectomia, podemos ou não nos tatuar, podemos ou não sofrer o exame de próstata. E mesmo pequenas intrusões geram escândalo: recentemente, a Marinha teve que explicar na imprensa as razões operacionais de sua decisão de não aceitar pessoas com tatuagens visíveis.
Por isso, cada vez que damos pitaco no que deve ou não ser feito com o corpo das mulheres, elas se sentem inferiorizadas, infantilizadas, objetificadas, invadidas. Com razão. Se não podem decidir nem isso, não podem decidir nada. Não são nada.
Então, vamos combinar. Sei que é difícil mas fique de boca fechada. Ok, o feto foi gerado por você, mas até ele sair lá de dentro, o útero é dela. A decisão é dela. O corpo é dela.
Parece que estou te aconselhando a se submeter à sua mulher, uma verdadeira emasculação!, coitadinho de você!, mas só parece assim porque estamos muito acostumados a mandar nas mulheres. Não é submissão ao seu vizinho você não ir lá escolher o papel de parede dele: quando você escolheu o seu, ele também não interferiu. Estenda às mulheres a mesma cortesia que o mundo sempre lhe estendeu: não dê pitaco no corpo delas.
Repita comigo. Faça disso o seu mantra: o corpo dela é dela.
Aprenda a hora de ficar calado
Não diga às mulheres o que fazer. Nada pode ser mais intrinsecamente machista do que você, homem, mesmo ó tão pró-feminista e ó tão razoável, querendo dizer às feministas como devem se comportar. Que “seriam mais ouvidas se fossem menos agressivas”. Que “deveriam ser mais dóceis”. Que não entende porque estão brigando logo com você, que é tããão fofo, tão pró-feminista, tão amigo!
Bem, deixa eu bater uma real: Se você, homem, a essa altura do campeonato, ainda se acha no direito de dizer pras mulheres como devem se comportar; se acha que cabe a você determinar qual é a melhor maneira do feminismo alcançar seus objetivos; se acha mesmo que é aceitável esse tipo de comentário ao mesmo tempo autoritário e condescendente, então, meu amigo, você não entendeu nada.
Mas tem conserto: fecha essa boca, abre esse ouvido. Para um homem, simplesmente ouvir as mulheres, sem interpelar grosseiramente nem minimizar as agressões sofridas, já é um grande, enorme, importantíssimo primeiro passo.
A inocência dos homens
As mulheres são tão responsáveis quanto os homens pela perpetuação da cultura machista, mas com uma grande diferença: só os homens se beneficiam. Nenhum homem é inocente dos crimes do machismo. Mesmo que nunca tenha feito nada de errado, todo homem se beneficia da estrutura de dominação criada pelo machismo. Cada vez que eu, um escritor, sou levado a sério por escrever algo que, se eu fosse escritora, teria caído em ouvidos surdos, estou me beneficiando do machismo estrutural da nossa sociedade, querendo ou não. Tanto homens quanto mulheres introjetam o machismo, mas se apropriam dele de forma assimétrica: para os homens, algumas desvantagens e várias vantagens; para as mulheres, praticamente só desvantagem.
Uma das grandes diferenças entre homem e mulher está justamente na vasta gama de privilégios desfrutados pelos homens, muitas vezes sem nem se dar conta de que são privilégios. Se você pergunta a um homem quando foi a última vez que sentiu medo de morrer, vai ouvir alguma história sobre uma aventura ou um quase crime acontecida meses ou anos antes; se pergunta para uma mulher, ela vai contar algo que aconteceu hoje de manhã ou ontem à noite. Para nós homens, andar pela vida sem medo de morrer ou de ser estuprado é uma coisa tão normal que nem nos damos conta. Mas, do ponto de vista de uma mulher, esse é justamente um dos maiores privilégios masculinos.
A pergunta é simples: você está no time dos que receberam mais do que a média e, portanto, pode abrir mão de algumas regalias em prol de quem não teve as mesmas oportunidades? Ou recebeu menos do que média e, portanto, ainda precisa de todas as vantagens que puder agarrar? O que acha? Quem é você? Será que nós, homens, podemos abrir mão de alguns dos privilégios, regalias e direitos que adquirimos ao longo de milênios de patriarcado ou será que vamos nos aferrar com unhas e dentes ao mundo de nossos avôs? Não basta simplesmente não ser machista: como a sociedade se estrutura de forma machista, é necessário agir individual e estruturalmente para abrir mão destes privilégios.
Se a vida fosse um videogame, ser homem, branco hétero seria com certeza o nível de dificuldade mais baixo.
(Sobre perguntar para homens e mulheres quando foi a última vez que tiveram medo de morrer, recomendo o indispensável A Virtude do Medo, de Gavin deBecker.)
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Texto originalmente publicado no site PapodeHomem em outubro 2012. Depois republicado no meu livro Outrofobia, de 2015. Revisado e reescrito em 2019.
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