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A fragilidade do corpo negro

“Entre o mundo e eu”, uma carta do jornalista norte-americano Ta-Nehisi Coatesao seu filho de quinze anos, é um livro sobre o corpo. Mais especificamente, sobre o corpo negro.

Resenha de Entre o mundo e eu de Ta-Nehisi Coates para a Folha de S. Paulo, publicada no dia 2 de janeiro de 2016. Abaixo, a versão integral.

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Entre o mundo e eu, uma carta do jornalista norte-americano Ta-Nehisi Coates (pronúncia aproximada: tanarrássi) para seu filho de quinze anos, é um livro sobre o corpo. Mais especificamente, sobre o corpo negro.

Transcendendo o corpo negro

O corpo é o lugar da dor, da tortura, da escravidão, como escreveu Elaine Scarry, em The body in pain — the making and unmaking of the world. Quando pessoas são torturadas, quando a dor lhes é impingida, sua capacidade de expressão se apaga, sua consciência se dissolve, o próprio mundo a sua volta se desfaz. (Daí o subtítulo.) Mais do que isso, só o corpo pode ser torturado e escravizado. Quanto mais subalterno e marginalizado é um grupo, mais suas integrantes serão vistas como “apenas corpos”: sexualizados, intercambiáveis, dispensáveis. (Pensem no corpo de uma mulher negra em uma propaganda de cerveja.) Inversamente, para uma pessoa subalterna em uma sociedade opressora, uma das poucas proteções é dominar os códigos culturais hegemônicos e, assim, transcender a fragilidade do próprio corpo.

Em Cuba, por exemplo, o poeta Juan Francisco Manzano nasceu escravizado, aprendeu a ler por conta própria e com altos riscos pessoais e compôs a única autobiografia que se conhece de uma pessoa escravizada latino-americana: em reconhecimento, um grupo literário fez uma coleta e comprou sua liberdade.

Nos Estados Unidos, depois de uma infância amedrontada, de perder muitas pessoas amigas e parentes para a violência, de não conseguir terminar a universidade, de fazer trabalhos como free-lancer enquanto a esposa o sustentava, Ta-Nehisi Coates tornou-se colunista da revista The Atlantic, recipiente de uma “bolsa para gênios” da Fundação MacArthur e autor best-seller. (“Senti que estava entre os sobreviventes de algum grande desastre natural,” escreveu.)

Coates e Manzano, um livre e o outro escravizado, vindos de duas culturas muito diferentes, separados por dois séculos, têm ainda assim trajetórias assustadoramente parecidas: duas pessoas negras que dominaram a palavra escrita para assim transcenderem a precariedade de suas origens.

Por que uma carta a um jovem negro

O catalisador para a escrita do livro foi o assassinato de um conhecido de Ta-Nehisi Coates pela polícia.

O rapaz esquiava todo ano, viajava para a Europa, dirigia um carro caro, não tinha ficha na polícia, era rico, “bom cristão, nobre rebento de uma classe esforçada, santo padroeiro da lógica que diz que negros devem ser ‘duas vezes melhores’ para alcançar o mesmo que os brancos”, e nada disso o salvou de ser morto, sem provocação alguma, por um policial que alegou tê-lo confundido com um bandido e nunca passou um dia na cadeia pelo crime. Se nem ele estava isento, que homem negro jamais poderia estar?

Mais tarde, Ta-Nehisi Coates entrevista a mãe do jovem assassinato e ela desabafa, comentando sobre Solomon Northrup, o negro livre norte-americano que foi sequestrado, ilegalmente vendido como escravo e mantido em cativeiro por doze anos, e cuja história é retratada no filme 12 anos de escravidão:

“Lá estava ele. … Ele tinha meios. Ele tinha família. Estava vivendo como um ser humano. E um ato racista o trouxe de volta. E a mesma coisa aconteceu comigo. Passei anos desenvolvendo uma carreira, adquirindo bens, assumindo responsabilidades. E um só ato racista. Bastou isso.”

Só então Ta-Nehisi Coates compreende o modo obsessivo como os negros amam seus filhos: por saberem que podem ser mortos a qualquer momento, mortos por nada, mortos sem deixar culpados, como se suas vidas tivessem sido apagadas por um desastre natural. E escreve ao filho: “[O]correu-me então que você não escaparia, que havia homens horríveis que tinham feito planos para você e que eu não conseguiria detê-los.”

A melhor segurança possível para um menino negro em uma sociedade racista é ter a completa noção de o quão precária e perigosa é a sua condição de portador de um corpo negro.

Daí o livro que Ta-Nehisi Coates escreve para seu filho — e cujas lições, infelizmente, também valem para jovens pessoas negras brasileiras.

Minorias em conflito em um mundo sem Deus

Apesar de aclamado, Entre o mundo e eu despertou muita polêmica nos Estados Unidos. Entre outras coisas, por ser radicalmente materialista em uma comunidade negra onde a experiência religiosa sempre foi um enorme fator de consolo e união.

Na visão de mundo de Ta-Nehisi Coates, não há espaço nem para Deus, nem para boas intenções. Sobre as escolas que ensinam mansidão e conformismo a jovens pessoas negras, ele denuncia: elas não revelam verdades, mas sim as ocultam. “Esqueça as intenções. O que qualquer instituição, ou seus agentes, ‘tem a intenção’ de fazer por você é secundário.” E completa: “Nosso mundo é físico.”

Ele ensina ao filho que ele precisa ser responsável por seu próprio corpo de uma maneira que outros meninos jamais poderão entender. E não apenas isso: precisa também ser responsável pelos corpos dos poderosos: “o policial que bate em você com um cassetete encontrará com facilidade algum pretexto em seus movimentos furtivos”. Mais ainda, assim como meninos brancos jamais entenderão o significa ter um corpo negro, seu filho também precisa saber que jamais entenderá o que significa ter um corpo de mulher.

Em um momento político no qual os movimentos sociais brasileiros parecem isolados em guetos cada vez mais estreitos (quando algumas feministas radicais são abertamente transfóbicas e muitos homens de esquerda, escancaradamente machistas) é um alento ver Ta-Nehisi Coates desconstruindo não apenas a narrativa racista que o mundo branco impõe sobre jovens negros como ele, mas também as demais narrativas outrofóbicas que ele mesmo carrega dentro de si contra outros grupos e minorias: “Sou negro, fui saqueado e perdi meu corpo. Mas talvez também possa saquear, pegar o corpo de outro humano para me afirmar … O ódio confere uma identidade.” Pelo contrário, ele enfatiza que, para militantes de causas subalternas, a união talvez seja o mais importante:

“A nenhum de nós foi prometido que estaremos de pé ao final da luta, os punhos erguidos para o céu. Não podemos controlar o número de inimigos que temos, sua força ou armamento. … Mas quer se lute, quer se corra, devemos fazer isso juntos, pois essa é a parte que está sob nosso controle. O que nunca devemos fazer é entregar voluntariamente nossos corpos ou os corpos de nossos amigos.”

Faz sentido ser patriota pela nação que lhe escraviza?

No Brasil do século XIX, quando ainda se associava patriotismo a escravidão e abolicionismo a entreguismo aos britânicos, um menino branco de 22 anos criou polêmica ao impugnar a própria existência do país cuja bandeira protegia os horrores do tráfico humano: “antes te houvessem roto na batalha a servir a um povo de mortalha!…”

Morei nos Estados Unidos, em um ambiente universitário. Tive colegas comunistas, anti-imperialistas, anarquistas, pessoas que dedicaram suas vidas a denunciar os crimes e a desconstruir os mitos de seu país, mas eram muito raros os que conseguiam chegar ao ponto de reconhecer sua mentira fundacional: o excepcionalismo norte-americano, a ideia de que os Estados Unidos são a nação mais livre e mais democrática do mundo.

(Uma vez, em sala de aula, afirmei que não fazia sentido as pessoas norte-americanas se considerarem as mais livres do mundo: a partir de um certo grau de democracia representativa, todos os países livres eram igualmente livres. As leis eram diferentes, havia coisas que as pessoas brasileiras podiam fazer e as norte-americanas não, e vice-versa, mas ambas os grupos eram igualmente ‘livres’. E uma aluna desafiou: ‘então me diz agora uma coisa que você, cidadão brasileiro, pode fazer e eu, cidadã americana, não posso.’ E respondi: ‘visitar Cuba’.)

Pois a outra grande polêmica gerada por Entre o mundo e eu foi sua implacável impugnação do Sonho norte-americano e sua crítica feroz às pessoas que têm o privilégio de poder acreditar nele: as Sonhadoras.

Crescendo sempre com medo, dos pais, das gangues, da polícia, Ta-Nehisi Coates sabia que existiam outros mundos onde as “crianças não temiam o tempo todo por seus corpos”: esse mundo era o Sonho. O problema não era a mentira do “governo do povo, pelo povo, para povo” (como disse Lincoln no Discurso de Gettysburg) mas o fato de as pessoas negras não estarem incluídos nessa ideia de povo.

Entretanto, ter consciência dos horrores do racismo e da escravidão significava também ter conciência de que a auto-imagem de seu país era mentira. Pior ainda era o fardo extra do país retrucando que sim, o Sonho era justo, nobre e real, você é que estava vendo coisas.

No Brasil, também temos um Sonho nacional, uma mentira fundadora que poucas pessoas brasileiras conseguem abandonar: nossa pretensa “democracia racial”, fruto de nosso dito pacifismo inato.

Quando Ta-Nehisi Coates fala do Sonho, querendo dizer o “excepcionalismo norte-americano”, podemos lê-lo como se estivesse falando da “democracia racial brasileira”. O seu dedo, apontado para si, também está apontado para nós. Ele também está impugnando o nosso Sonho:

“[D]urante muito tempo eu quis escapar para dentro do Sonho, estender meu país sobre a cabeça como se fosse um cobertor. Mas isso nunca foi uma opção, porque o Sonho repousa sobre nossas costas, a cama feita de nossos corpos. … Os Sonhadores terão de aprender … que o espaço para seu Sonho … é o leito de morte de todos nós.”

Na época do Onze de Setembro, o comediante Bill Maher chegou a perder seu programa de tevê apenas por afirmar que os terroristas eram “corajosos”. Ta-Nehisi Coates, catorze anos depois, vai muito mais longe e afirma que o Downtown de Manhattan, a ponta sul da ilha onde ficava o World Trade Center e ainda está o distrito financeiro e Wall Street, sempre tinha sido o Ground Zero das pessoas negras. Afinal, era ali que eram leiloadas, vendidas e enterradas as pessoas cativas que estavam chegando para vidas e mais vidas, gerações e mais gerações de escravidão potencialmente sem fim no Novo Mundo: “Bin Laden não tinha sido o primeiro a levar o terror para essa parte da cidade.”

Durante as obras para os Jogos Olímpicos de 2016, a prefeitura do Rio de Janeiro desencavou e apresentou à cidade o Cais do Valongo, talvez o principal ponto de entrada de pessoas escravizadas nas Américas. Entraram mais pessoas escravizadas somente pelo Valongo (cerca de 900 mil entre 1758 e 1843) do que em todos os Estados Unidos em toda a sua história de escravidão (cerca de 400 mil). Ali ao lado, recém-saído de seu transatlântico, o turista olímpico em visita ao Rio também poderá conhecer o Cemitério dos Pretos Novos, onde eram enterradas as pessoas que chegavam ao nosso país fracas demais para suportar uma vida no cativeiro.

No total, cerca de quatro milhões de pessoas escravizadas entraram no Brasil durante a vigência da escravidão. Não seria esse o maior ato de terrorismo já perpetrado em nosso país?

Racismo norte-americano e racismo brasileiro

Quando discutimos racismo, muitas pessoas brasileiras ansiosamente se apegam a um único consolo: “pelo menos não somos racistas como os Estados Unidos!” Mas é um falso alívio.

Talvez o grande momento de virada de Ta-Nehisi Coates tenha sido quando cursou Howard University, a principal universidade negra norte-americana, onde, apesar de nunca ter se formado, conheceu a futura esposa, teve acesso a uma riquíssima vida intelectual negra, leu os teóricos antirracistas que alimentam sua obra. Sem Howard (que ele chama de Meca), Coates talvez não tivesse sobrevivido ao desastre natural de nascer homem negro nos Estados Unidos.

Semana passada, recebi a visita de um amigo norte-americano negro. A primeira pergunta que ele me fez, muito prática, foi: “como funciona o racismo no Brasil?” Tínhamos ambos acabado de ler Entre o mundo e eu, e respondi:

“O racismo no Brasil funciona exatamente como o racismo norte-americano descrito por Ta-Nehisi Coates, com uma exceção. Não temos nada equivalente à Howard University.”

Por isso, estamos piores.

Alex Castro, 41, é escritor. Em 2015, publicou Outrofobia, textos militantes, pela editora Publisher Brasil, e A Autobiografia do Poeta-escravo Juan Francisco Manzano, pela editora Hedra, a ser lançado em Cuba em 2016.

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Trecho em destaque:

“A escravidão não é uma indefinível massa de carne. É uma mulher escravizada particular e específica, com uma mente tão ativa quanto a sua, com sentimentos tão vastos quanto os seus; uma mulher que prefere o modo como a luz incide num determinado local da floresta, que gosta de pescar no ponto do riacho onde a água redemoinha, que ama a mãe a sua própria e complicada maneira, que acha que a irmã fala alto demais, que tem um primo predileto, uma estação do ano predileta, que se destaca ao criar e fazer vestidos, e que sabe, lá no fundo, que é tão inteligente e capaz quanto qualquer um. ‘Escravidão’ é essa mesma mulher nascida num mundo que proclama em voz alta seu amor à liberdade e inscreve esse amor em seus textos fundamentais, um mundo no qual os mesmos professores mantêm essa mulher como escrava, assim como sua mãe, seu pai e sua filha, e quando essa mulher olha para trás através de gerações tudo que vê são os escravizados. Ela pode ter esperança. Pode imaginar outro futuro para seus netos. Mas quando ela morre, o mundo — que na realidade é o único mundo que ela jamais poderia conhecer — termina. Para essa mulher, a escravidão não é uma parábola. É a danação. É a noite que nunca termina. E a duração dessa noite constitui a maior parte da nossa história. Nunca se esqueça de que estivemos escravizados neste país por mais tempo do que temos sido livres. Nunca se esqueça de que durante 250 anos os negros nasciam acorrentados — gerações inteiras seguidas de mais gerações que nada conheciam além de suas correntes. … Os escravizados não foram tijolos que pavimentaram o seu caminho, e as vidas deles não foram capítulos em sua história de redenção. … A escravidão não estava destinada a terminar, e é errado considerar nossa situação atual … como a redenção da vida de pessoas que nunca pediram para si a glória póstuma e intangível de morrer por seus filhos. Nossas conquistas nunca serão uma compensação por isso. Talvez nossas conquistas nem sejam a verdadeira questão. Talvez tudo o que tenhamos seja a luta, porque o deus da história é ateu. … [N]enhuma promessa é isenta de ser quebrada, e menos ainda a promessa de simplesmente acordar. Isso não é desespero. Essas são as preferências do próprio universo: verbos acima de substantivos, ações acima de estados, luta acima de esperança. … Você tem que fazer as pazes com o caos, mas não pode mentir. … [Você] não pode esquecer o quanto eles tiraram de nós e como transfiguraram nossos corpos em açúcar, tabaco, algodão e ouro.” (75-77)

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Fonte dos números sobre pessoas escravizadas trazidas para as Américas:

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Citações

Citações verbatim dos trechos que foram parafraseados na resenha:

“[E]u sabia que meu pai estava morto, que meu tio Oscar estava morto e que meu tio David estava morto, e que nenhuma dessas mortes tinha sido natural.” (26)

“Senti que estava entre os sobreviventes de algum grande desastre natural.” (130)

“[C]onheço o limite dos meus cuidados, o alcance dos meus poderes … Pensei em todos os belos negros que eu via … todas as suas histórias e geografias, toda a sua incrível humanidade, e nada disso poderia salvá-los da marca da pilhagem e da gravidade de nosso mundo particular. E ocorreu-me então que você não escaparia, que havia homens horríveis que tinham feito planos para você e que eu não conseguiria detê-los. Prince Jones foi o superlativo de todos os meus medos. E se ele, um bom cristão, nobre rebento de uma classe esforçada, santo padroeiro da lógica que diz que negros devem ser ‘duas vezes melhores’ para alcançar o mesmo que os brancos, podia ser imobilizado para sempre, quem estava isento? (86-87)

“Lá estava ele [Solomon Northrup]. … Ele tinha meios. Ele tinha família. Estava vivendo como um ser humano. E um ato racista o trouxe de volta. E a mesma coisa aconteceu comigo. Passei anos desenvolvendo uma carreira, adquirindo bens, assumindo responsabilidades. E um só ato racista. Bastou isso.” (144)

“Os negros amam seus filhos com uma espécie de obsessão. Você é tudo que temos, e já nos chega em perigo. … [Minha mãe] sabia que a própria galáxia poderia me matar, que eu poderia, inteiro, ser despedaçado e todo o seu legado despejado no meio-fio como se fosse vinho de má qualidade. E ninguém seria acusado por essa destruição, porque minha morte não teria sido culpa de qualquer ser humano, e sim do desafortunado mas imutável fato da ‘raça’ imposto sobre um país inocente pelo inescrutável juízo de deuses invisíveis. Um terremoto não pode ser incriminado. Um tufão não se curvará a um indiciamento. Eles mandaram o assassino de Prince Jones de volta ao trabalho porque ele não era absolutamente um assassino. Ele era uma força da natureza, o desamparado agente das forças físicas do nosso mundo.” (88)

“[A]s escolas estavam escondendo algo, nos drogando com uma falsa moralidade para que não enxergássemos, e assim não perguntássemos: Por que — para nós e apenas para nós — o outro lado do livre-arbítrio e do espírito livre é um ataque a nossos corpos? … Escolas não revelam verdades: elas as ocultam. … Não importa que as ‘intenções’ dos educadores, individualmente, tenham sido nobres. Esqueça as intenções. O que qualquer instituição, ou seus agentes, ‘tem a intenção’ de fazer por você é secundário. Nosso mundo é físico.” (36-42)

“Você é um menino negro, e precisa ser responsável pelo seu corpo de uma maneira que outros garotos jamais poderão entender. … E você terá que ser responsável pelos corpos dos poderosos — o policial que bate em você com um cassetete encontrará com facilidade algum pretexto em seus movimentos furtivos. … [A]s mulheres a sua volta devem ser responsáveis pelos seus corpos de uma maneira que você jamais irá entender.” (77)

“Sou negro, fui saqueado e perdi meu corpo. Mas talvez também possa saquear, pegar o corpo de outro humano para me afirmar … O ódio confere uma identidade.” (65-66)

“A nenhum de nós foi prometido que estaremos de pé ao final da luta, os punhos erguidos para o céu. Não podemos controlar o número de inimigos que temos, sua força ou armamento. … Mas quer se lute, quer se corra, devemos fazer isso juntos, pois essa é a parte que está sob nosso controle. O que nunca devemos fazer é entregar voluntariamente nossos corpos ou os corpos de nossos amigos.” (74-75)

“Em algum lugar … havia outros mundos onde crianças não temiam o tempo todo por seus corpos. Eu sabia disso porque havia um grande aparelho de televisão na minha sala de estar.” (30)

“[O] problema da América não é a traição ao “governo ao povo”, mas as maneiras pelas quais o povo adquiriu seus nomes.” (18)

“Ter consciência desses horrores significa abandonar a brilhante versão que apresenta seu país como ele sempre tem se declarado e voltar-se para algo obscuro e desconhecido.” (102)

“Existe o fardo extra de seu país lhes dizendo que o Sonho é justo, nobre e real, e que você está louco ao ver a corrupção e sentir o cheiro de enxofre.” (109)

“[D]urante muito tempo eu quis escapar para dentro do Sonho, estender meu país sobre a cabeça como se fosse um cobertor. Mas isso nunca foi uma opção, porque o Sonho repousa sobre nossas costas, a cama feita de nossos corpos.” (22)

“[N]ão lute pelos Sonhadores. Tenha esperança por eles. … Mas não aposte sua luta na conversão deles. Os Sonhadores terão de aprender a lutar por si mesmos, para compreender que o espaço para seu Sonho, o palco em que se pintaram de branco, é o leito de morte de todos nós.” (149-150)

“[O] sul de Manhattan sempre tinha sido, para nós, o Ground Zero. Lá eles leiloavam nossos corpos, no mesmo devastado distrito financeiro. E ali houve certa vez um cemitério para os leiloados. … Bin Laden não tinha sido o primeiro a levar o terror para essa parte da cidade. Nunca esqueci isso. Nem você deve esquecer.” (92)

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