Amiga pintora, em crise de insegurança, me pergunta se já senti que eu, como artista, não tenho valor.
Respondi que essa me parece uma questão completamente irrelevante, que só faz sentido a partir de um ponto de vista egoico, vaidoso, narcissista.
Prefiro me perguntar: “Estou dando o meu melhor?”
* * *
Já escreveu alguém que toda pessoa artista já duvidou do valor da sua produção: é sempre possível que tenhamos desperdiçado nossa vida por nada.
Quando acordo assim, penso, em primeiro lugar, das sábias palavras de Oswaldo Montenegro:
“Nenhum artista é nem tão bom quanto dizem seus fãs, nem tão ruim quanto dizem seus desafetos.”
Algumas pessoas dizem que meu trabalho tem valor, que milhares e milhares de pessoas leem minhas palavras, me acompanham, foram tocadas por elas, etc.
E é tudo verdade.
Mas se eu achasse que tenho valor somente porque muitas e muitas pessoas acham que tenho valor…
(E sei que existem, recebo seus emails carinhosos todos os dias!)
Então, eu seria obrigado a também concluir que não tenho valor, porque muitas e muitas pessoas acham que não tenho valor…
(E sei que existem, recebo seus emails raivosos todos os dias!)
A única resposta possível é abandonar essa questão, autocentrada e egóica, e encarar o fato de que nada disso faz nenhuma diferença.
Eu não sei se sou bom ou não. Não sei se o meu trabalho tem valor ou não.
Tem quem goste, tem quem não goste, e não tem ninguém, nem eu, com suficiente autoridade moral para bater o martelo e resolver a questão.
(Deus me ajude, tem gente que acha até que Machado de Assis mandava mal!)
Então, a verdade, a verdade verdadeira, é que não importa.
O que importa é que eu acordo todo dia e, apesar de ser todo errado em tanta coisa, apesar de ser grosso com minha mãe, apesar de comer besteira, apesar de pular minha série de musculação…
… quando sento diante do metafórico papel em branco…
… sempre dou o meu melhor.
E, se dou o meu melhor, pouca diferença faz se o meu melhor é bom ou ruim, satisfatório ou insatisfatório, suficiente ou insuficiente:
O meu melhor, simplesmente falando, é o que tem pra hoje.
Se bastar, beleza.
Se não bastar, paciência.
* * *
Nessa carreira artística tão ingrata, de recompensas tão espaçadas e difusas, aprendi faz tempo que o melhor remédio para a dúvida…
“Será que meu trabalho tem valor?”
… é simplesmente sempre dar o melhor de mim e deixar que o universo tome conta de si mesmo.
* * *
A questão não é se o meu trabalho tem valor ou não.
(Afinal, quem sou eu, ou quem seria qualquer pessoa, para afirmar isso?)
A questão é que escrever, entre tantas coisas que faço, é a coisa que faço melhor.
Logo, escrever é o melhor uso do meu tempo limitado nessa terra e a minha melhor esperança para ajudar as pessoas e mudar o mundo.
Por isso, continuo escrevendo.
Obrigado por estar aí lendo.
* * *
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