Dona Albertina anda sempre maquiada, penteado bem armado, cabelos tingidos de louro, brincos balançantes. Nos pés, sandálias abertas revelam dedos entrevados mas com a pedicure perfeita.
Anda devagar. Corpo muito ereto. Cada passo é um esforço. No mínimo, uma decisão. Ela decide dar um passo. Depois, decide dar o seguinte. Um de cada vez. Devagar. Com fraqueza mas com segurança. Devagar e sempre.
Em casa, investe toda uma manhã em se arrumar, dizendo para o espelho: até parece que vou sair descabelada que nem essas velhas loucas!, jamais!, logo eu! Quem ganhou a maratona de dança do Copacabana Palace em 1947 não vai sem rouge até o Posto Seis, não, senhora!
Dona Albertina já não consegue mais se arrumar na mesma velocidade de antigamente. Mas seu marido morreu e seus filhos cresceram: ela tem tempo.
A ida à padaria é a parte mais importante do seu dia.
Para encontrar os vizinhos. Para sentir o cheiro de maresia. Para conversar com os cachorros do quarteirão. Para ver e ser vista. Para mostrar que ainda não está morta. Para celebrar que está viva. Para afirmar que é linda! Linda!
E assim, entrevada e vagarosa, a eterna Miss Tomate 1953 (aclamada por unanimidade pelo júri do festival do tomate de Paty do Alferes!) vai até a padaria comprar duas cavacas com recheio de goiabada. Que o seu Manuel já se ofereceu diversas vezes para entregar em casa, de graça, para a senhora não ter esse trabalhão, Dona Albertina!
Mas seu Manuel não entende nada.
Uma resposta em “Miss Tomate de Paty do Alferes, 1953”
adorei esse blog. gosto de tudo relacionado a manicure e pedicure. Trabalho a bastante tempo na área. Parabéns pelo blog, beijos da faby