De repente, sem aviso, Jó perde tudo: seus rebanhos, seus empregados, seus filhos, suas casas.
Estupefato, com feridas terríveis da sola dos pés até o alto da cabeça, sem saber o que fazer, sentado nas cinzas da sua casa, ele se coça com um caco de telha, em uma das imagens mais patéticas e tristes da Bíblia.
Então, é visitado por três amigos.
Para compartilhar sua dor e consolá-lo, os amigos sentam-se nas cinzas ao seu lado e passam ali sete dias e sete noites, sem dizer uma palavra sequer.
Uma palavra sequer.
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Quase sempre, não sabemos como consolar um ente querido em dor profunda. Gosto do exemplo dos amigos de Jó: ir até a pessoa fisicamente, compartilhar sua dor, não falar nada.
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Quem conhece o Livro de Jó sabe que os amigos, infelizmente, logo começam a encher o saco, mas merecem crédito por terem conseguido passar sete dias calados:
“E Satanás … feriu Jó com chagas malignas desde a planta dos pés até o cume da cabeça.
Então Jó apanhou um caco de cerâmica para se coçar e sentou-se no meio da cinza. …
Três amigos de Jó … ao inteirar-se da desgraça que havia sofrido, partiram de sua terra e reuniram-se para ir compartilhar sua dor e consolá-lo.
Quando levantaram os olhos, a certa distância, não o reconheceram mais.
Levantando a voz, romperam em prantos; rasgaram seus mantos e, a seguir, espalharam pó sobre a cabeça.
Sentaram-se no chão ao lado dele, sete dias e sete noites, sem dizer-lhe uma palavra, vendo como era atroz seu sofrimento.”
(Jó, capítulo 2, Bíblia de Jerusalém)