imersão “as prisões” — depoimentos

alguns depoimentos de pessoas que vieram à imersão “as prisões”. as versões completas estão nos comentários.

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Renata Almeida

Sempre quis encontrar mais peixes fora do aquário. Só não imaginava que haveriam tantos e que seria tão sensacional. A experiência da imersão foi algo muito precioso para o meu modo de ver a vida. … Nos despimos de máscaras e expomos questões que talvez nunca viriam a tona se não fosse por esse encontro. O choro correu livre, assim como o riso. Nunca me deixei tão vulnerável e ao mesmo tempo me senti tão acolhida. Foi uma das melhores experiências da minha vida.

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imersão “as prisões”, nos jardins. 7fev2015.

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Munique Vieira

Encontrei pessoas amáveis, tolerantes, dispostas a escutar e compreender o diferente. Candura! Pessoas se abrindo e se expondo sem recear tanto o julgamento alheio, com tanta lisura, desabrochando e embelezando a experiência. Não há liderança ou alimentos para as vaidades, mas falamos da forma mais legítima sobre questões que aprisionam e afligem as pessoas – a partir das várias experiências singulares contadas por cada um. Ouvir foi muito mais importante que falar. É bom encontrar pessoas que compartilhem suas reflexões, medos e inseguranças, sem qualquer julgamento ou deverismos. É bom também encontrar pessoas que falem o que você nunca imaginou.

imersão corpus christi, 5jun15.
imersão corpus christi, 5jun15.

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Alessandro Martins

Colocar-se vulnerável é uma atitude, paradoxalmente, muito poderosa. … O encontro consiste do depoimento de cada um dos participantes – durante até quinze minutos, podendo durar mais ou menos conforme o caso -, seguido de uma conversa sobre a prisão exposta naquele momento, com mediação do Alex. Na versão imersão, ainda há tempo para o convívio: tomamos banho de cachoeira, nadamos no lago e na piscina, jogamos pingue pongue, fizemos excelentes refeições, dormimos, conversamos, fizemos sauna, tocamos acordeão e cantamos.

O Encontro As Prisões é um aprendizado duplo, em minha opinião. Naqueles quinze minutos em que a pessoa fala, você deve ouvir com atenção plena, sem julgamentos, sem culpabilização, sem comparar. O debate que vem a seguir segue essas mesmas regras. E também a de não encarar a vida de quem se expôs como um quebra-cabeça a ser resolvido. Claro, ninguém sabe fazer isso com perfeição. Estamos aprendendo. É o primeiro passo para começar a desfazer as amarras da, talvez, principal prisão: o narcisismo. E, com isso, passar a ver as pessoas com mais empatia, sem querer se colocar como protagonista do mundo do outro. Sem o eu, eu, eu, eu, eu, esse pronome pessoal que até conseguimos disfarçar com malabarismos de linguagem, enquanto fingimos doar nossa atenção com integridade. …

É muito raro estar na mesma sala com pessoas sendo tão elas mesmas. … Eram umas duas dezenas de “pessoas reais” ali. Ninguém estava tentando ser a celebridade photoshopada da capa de revista, nem física nem emocionalmente. Tentávamos ficar, figurativamente, nus e sem máscara, tanto quanto conseguíamos. E o ambiente foi tão propício a isso que muitas das que chegaram com questões prontas, talvez elaboradas trabalhosamente à caminho do hotel, mudaram de tema no meio de evento. Para surpresa delas mesmas, se dispuseram a se colocar, de improviso, vulneráveis. E, então, apresentaram assuntos pessoais que lhe eram mais caros e difíceis e que, em outra situação, prefeririam deixar escondidos.

Imagine: você se sentindo a vontade para falar de algo que lhe é precioso ou dolorido, aproveitando a oportunidade de ser ouvido, sem ser interrompido, sem ser julgado, sem que os outros estejam pensando no que responder em seguida em vez de escutar de fato, sem ser sequer aconselhado. Na hora de debater o tema apresentado, nem sempre isso acontecia, claro: estávamos tentando ali. E dispostos a aprender essa sabedoria, a de ouvir, que vem se perdendo.

Rubem Alves lembra: cursos de oratória demais e poucos de escutatória. O encontro do Alex é um curso de escutatória. O seu principal conteúdo é doar o que temos de mais precioso, nosso tempo em atenção máxima. E aprendemos a fazer isso sem que ninguém esteja ensinando formalmente. E isso nos leva ao segundo aprendizado de que queria falar: o de estar vulnerável.

Estamos acostumados a nos colocar na defensiva. Isso nos enche de couraças, psicológicas e mesmo físicas. Mas quando nos mostramos, nus e exibimos até mesmo aquilo que há sob a pele, dizemos: “Olha, mundo! Isto é o que eu tenho de melhor e pior em mim. E não tenho medo por ser o que sou e o que sou não pode ser usado como arma contra mim.” … Falo de nossas emoções, das mais nobres às mais densas e baixas, de nossas ações e reações, positivas e negativas, aos estímulos. Todas essas coisas que, para não nos ferirmos, preferimos esconder. E que nos tornariam mais fortes se não as escondêssemos.

imersão "as prisões". 7fev2015. foto: alessandro martins.
imersão “as prisões”. 7fev2015. foto: alessandro martins.

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Kauanna Navarro

Narcisismo – egoísmo – insegurança – medo… palavras que permearam histórias do final de semana. Aliás, que final de semana! Que intenso entrar em contato com suas “questões” mais profundas e se ver em questões de outros tão diferentes de você. … [Uma] reunião de pessoas senão desajustadas nesse mundo doido, ao menos, dispostas a pensá-lo de maneira diferente. Só de lembrar um nó vem à garganta. Como se meu corpo quisesse me dizer “há tanto mais a falar e a viver”. Voltei para a minha selva de pedras questionando tudo.

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6 respostas em “imersão “as prisões” — depoimentos”

E muito lindo encontrar pessoas dispostas a sair desse padrão psicopata e egoista da sociedade. Levantar questões sobre o outros modos de viver e de criar e essencial pra vida. Chegar ao transcendente independente de sua crença religiosa ou ateísta, observar e respeitar o outro. Superar nosso supremo egocentrismo, que nos causa tanta dor e incompreensão.
Ter como mediador e provocador Alex Castro que considero um pensador e filósofo grande e inteiro no sentido de provocacao .
Só finalizo com uma coisa:tendi oportunidade vá as imersoes ou a qualquer evento que seja proposto por ele, com dor ou com amor, com certeza ou dúvida, valera a pena. Obrigada a todos os queridos que foram também, vocês são mais que maravilhosos

Sempre quis encontrar mais peixes fora do aquário. Só não imaginava que haveriam tantos e que seria tão sensacional.
A experiência da imersão foi algo muito precioso para o meu modo de ver a vida.
Além de trabalhar as prisões, a intimidade gerada entre as pessoas participantes nos proporciona uma enxurrada de informação e novos pontos de vista sobre diversas questões.
Nos despimos de máscaras e expomos questões que talvez nunca viriam a tona se não fosse por esse encontro. O choro correu livre, assim como o riso. Nunca me deixei tão vulnerável e ao mesmo tempo me senti tão acolhida.
Foi uma das melhores experiências da minha vida, sem dúvidas.
O que acontece no encontro das prisões não dá pra definir. É simples e ao mesmo tempo complexo demais para explicar. Sente-se (ou deite-se) e sinta.

Não me sinto à vontade em coletivos – mesmo que sejam coletivos de causas que defendo. Não participo de grupos feministas, ou esquerdistas, ou vegetarianos, mesmo tendo visões de mundo que se aproximem destas. Sempre tenho a impressão de que em cada um desses grupos há luta mas também intolerância e uma sensação de que as pessoas acreditam que exista uma causa mais nobre que outras. Mas que alívio senti ao participar de “As prisões” em Areias, de 6 a 8 de fevereiro de 2015. Encontrei pessoas amáveis, tolerantes, dispostas a escutar e compreender o diferente. Candura! Pessoas se abrindo e se expondo sem recear tanto o julgamento alheio, com tanta lisura, desabrochando e embelezando a experiência. Não há liderança ou alimentos para as vaidades, mas falamos da forma mais legítima sobre questões que aprisionam e afligem as pessoas – a partir das várias experiências singulares contadas por cada um.

Ouvir, para mim, foi muito mais importante que falar.

É bom encontrar pessoas que compartilhem suas reflexões, medos e inseguranças, sem qualquer julgamento ou deverismos.

É bom também encontrar pessoas que falem o que você nunca imaginou.

Sou grata a todos pela experiência rica e pela companhia tão agradável.

Colocar-se vulnerável é uma atitude, paradoxalmente, muito poderosa.

Tenho percebido isso na prática, mas a moça deste vídeo pesquisou o tema e concorda comigo:

Estou falando sobre vulnerabilidade porque participei do Encontro As Prisões, criado por Alex Castro, em sua versão imersão, no Hotel Fazenda Sítio Velho, em Areias (SP), durante os dias 6, 7 e 8 de fevereiro.

O que acontece nesses encontros?

Eles nasceram como uma maneira do Alex expor mais intimamente suas observações sobre certas prisões a que nos agarramos:

As prisões são as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida. São as ideias pré-concebidas, as tradições mal-explicadas, os costumes sem-sentido: verdade, dinheiro, trabalho, privilégio, monogamia, religões, patriotismo, obediência, sucesso, felicidade e narcisismo.

Entre outras coisas.

Mas a cada encontro que realizava, o Alex falava menos. E mais e mais os próprios participantes passavam a expor suas próprias prisões. Com isso, o encontro se transformou.

Hoje o encontro consiste do depoimento de cada um dos participantes – durante até quinze minutos, podendo durar mais ou menos conforme o caso -, seguido de uma conversa sobre a prisão exposta naquele momento, com mediação do Alex.

Na versão imersão, ainda há tempo para o convívio: tomamos banho de cachoeira, nadamos no lago e na piscina, jogamos pingue pongue, fizemos excelentes refeições, dormimos, conversamos, fizemos sauna, tocamos acordeão e cantamos.

O Encontro As Prisões é um aprendizado duplo, em minha opinião.

Naqueles quinze minutos em que a pessoa fala, você deve ouvir com atenção plena, sem julgamentos, sem culpabilização, sem comparar.

O debate que vem a seguir segue essas mesmas regras. E também a de não encarar a vida de quem se expôs como um quebra-cabeça a ser resolvido.

Claro, ninguém sabe fazer isso com perfeição. Estamos aprendendo.

É o primeiro passo para começar a desfazer as amarras da, talvez, principal prisão: o narcisismo.

E, com isso, passar a ver as pessoas com mais empatia, sem querer se colocar como protagonista do mundo do outro.

Sem o eu, eu, eu, eu, eu, esse pronome pessoal que até conseguimos disfarçar com malabarismos de linguagem, enquanto fingimos doar nossa atenção com integridade.

Uma coisa que me ocorreu durante o encontro: é muito raro estar na mesma sala com pessoas sendo tão elas mesmas.

(tanto quanto é possível ser, pois não estamos muito treinados nisso; ao contrário)

Pense em “pessoas reais”.

Eram umas duas dezenas de “pessoas reais” ali.

Ninguém estava tentando ser a celebridade photoshopada da capa de revista, nem física nem emocionalmente. Tentávamos ficar, figurativamente, nus e sem máscara, tanto quanto conseguíamos.

E o ambiente foi tão propício a isso que muitas das que chegaram com questões prontas, talvez elaboradas trabalhosamente à caminho do hotel, mudaram de tema no meio de evento.

Para surpresa delas mesmas, se dispuseram a se colocar, de improviso, vulneráveis.

E, então, apresentaram assuntos pessoais que lhe eram mais caros e difíceis e que, em outra situação, prefeririam deixar escondidos.

Imagine: você se sentindo a vontade para falar de algo que lhe é precioso ou dolorido, aproveitando a oportunidade de ser ouvido, sem ser interrompido, sem ser julgado, sem que os outros estejam pensando no que responder em seguida em vez de escutar de fato, sem ser sequer aconselhado.

Na hora de debater o tema apresentado, nem sempre isso acontecia, claro: estávamos tentando ali. E dispostos a aprender essa sabedoria, a de ouvir, que vem se perdendo.

Rubem Alves lembra: cursos de oratória demais e poucos de escutatória. O encontro do Alex é um curso de escutatória.

O seu principal conteúdo é doar o que temos de mais precioso, nosso tempo em atenção máxima.

E aprendemos a fazer isso sem que ninguém esteja ensinando formalmente.

E isso nos leva ao segundo aprendizado de que queria falar: o de estar vulnerável.

Estamos acostumados a nos colocar na defensiva. Isso nos enche de couraças, psicológicas e mesmo físicas.

Mas quando nos mostramos, nus e exibimos até mesmo aquilo que há sob a pele, dizemos: “Olha, mundo! Isto é o que eu tenho de melhor e pior em mim. E não tenho medo por ser o que sou e o que sou não pode ser usado como arma contra mim.”

Um exemplo bem banal, palpável e concreto que usei em meu momento de falar: sou careca.

Foda-se eu ser careca.

Vou usar minha careca como meu super poder.

Ou super phoder, considerando o linguajar já adotado.

Embora, como homem, cis, hétero, branquelo e classe média seja fácil para mim dizer “foda-se” quanto a minhas questões estéticas.

(vejo muitos homens na mesma condição que eu, sofrendo pela perda das madeixas; às vezes tenho vontade de dizer para eles para não serem frouxos, pois há parcelas da população bem menos favorecidas sendo muito mais esmagadas por tentarem ser exatamente o que elas são – mulheres, pessoas pobres, pessoas homossexuais, pessoas transexuais, pessoas obesas, pessoas negras, pessoas amputadas, pessoas com tudo isso combinado, etc; mas mesmo esses caras brancos e calvos – todos nós afinal – têm que aprender a lidar com suas próprias fragilidades e, acima de tudo, entender e aceitar as fragilidades alheias; e acredite: a sociedade, mundo, o sistema, os iluminatti, o grande Búfalo da Água, seja lá como você chame isso, vai usar suas fraquezas contra você e fará você atacar as fragilidades de su a vizinha das maneiras mais ardilosas e sutis, imaginadas e não imaginadas)

Mas claro que não estou falando só de aparência física. É óbvio. Também falo de nossas emoções, das mais nobres às mais densas e baixas, de nossas ações e reações, positivas e negativas, aos estímulos.

Todas essas coisas que, para não nos ferirmos, preferimos esconder.

E que nos tornariam mais fortes se não as escondêssemos.

Narcisismo – egoísmo – insegurança – medo… palavras que permearam histórias do final de semana. Aliás, que final de semana! Que intenso entrar em contato com suas “questões” mais profundas e se ver em questões de outros tão diferentes de você. Grupo de apoio? Pode até ser, mas prefiro mesmo pensar que é a reunião de pessoas senão desajustadas nesse mundo doido, ao menos, dispostas a pensá-lo de maneira diferente.

Só de lembrar um nó vem à garganta. Como se meu corpo quisesse me dizer “há tanto mais a falar e a viver”. Voltei para a minha selva de pedras questionando tudo, inclusive, o que estou eu fazendo numa redação nesse momento escrevendo sobre ações e um sistema financeiro no qual não acredito. Mais questões a serem trabalhadas no caminho de me libertar de inúmeras prisões que ainda me vejo arrolada.

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