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Pelo direito de estarmos confusas

“Nunca ninguém tinha me dito que eu podia ficar confusa!”

Estar confusa só faz bem.

* * *

Uma vez, em sala de aula, eu acabara de expor um tempo verbal bem complexo para o qual não existia equivalente na língua materna das pessoas alunas. Uma delas, a que tinha mais dificuldade, levantou o braço e disse que ainda estava muito confusa. Perguntei se tinha mais alguém confuso na sala. Muitas (mas não todas) levantaram o braço.

E expliquei:

“Vocês acabaram de ser expostas a uma quantidade grande de informação sobre um tempo verbal totalmente novo, que funciona de um modo bem diferente da lógica da língua nativa de vocês. Diante disso, a reação mais correta, mais apropriada e mais humana é mesmo ficar confusa.

Se, agora, nesse momento, vocês estivessem seguras de ter entendido tudo, provavelmente seria uma falsa confiança, fruto de um entendimento ainda incompleto. Vocês ainda vão passar vários dias confusas, mas não tem problema. O teste é só daqui a um mês. Enquanto isso, vamos treinar isso juntas, em sala, em grupos, sem valer nota, até vocês de fato saberem como usar esse tempo verbal.

Até lá, ficar confusa só faz bem.”

A aluna que fez a primeira pergunta me olhou com um alívio tão grande, mas tão grande que fiquei até emocionado, e desabafou:

“Nunca ninguém tinha me dito que eu podia ficar confusa!”

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