Moro em Copacabana, em um prédio de dez andares, quarenta quitinetes por andar. Essa é uma de suas histórias.
* * *
Quatro pessoas esperando o elevador. Uma senhora com criança, um punk, e eu. A senhora está desesperada:
“Ai meu Deus! Como isso foi acontecer logo comigo? Quatrocentos reais!”
A criança tenta falar algo, e ela nem escuta:
“Não adianta. Ninguém vai devolver. Quem é que devolve alguma coisa nesse cidade?”
Eu pergunto:
“A senhora está bem? Posso ajudar em alguma coisa?”
“Tinha acabado de receber do pessoal da temporada, moço. Quatrocentos! Coloquei aqui no bolso de trás, e quando fui ver, sumiu.”
“Será que não bateram na rua?”
“Não, foi agorinha. Caiu aqui no prédio mesmo. Em notas de cinquenta. Mas não tem jeito, não tem jeito. Ah, não acredito!”
O elevador chega no andar. Enquanto vai saindo, o punk fala pela primeira vez, em tom carinhoso e com forte sotaque argentino:
“Agora é torcer para acabar nas mãos de quem precisa.”
A senhora sai sem dizer nada. Talvez não tenha ouvido. Talvez achou que não valia a pena responder. Talvez até considerou impertinente.
E ele, imperturbável, para mim:
“Difícil devolver dinheiro, né? Não tem nome. Então, sempre penso: Deus vai colocar esse dinheiro na mão de quem precisa.”
E continuamos subindo e subindo.