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Nossa vida no meio do lixo

Passamos a vida produzindo lixo. Até que viramos, nós mesmas, o lixo que alguém irá limpar.

Pergunta: “Como desapegar das minhas tralhas?”

Ceci Garrett has been helping hoarders, like this one, with Lightening the Load, a hoarding ministry in Spokane. Garrett's mother was a hoarder and they appeared on the show "Hoarders" on A&E. COLIN MULVANY colinm@spokesman.com

* * *

Um dia, percebi que vivia no meio do lixo.

Tudo aquilo que eu tinha acumulado ao longo da vida, trazido de viagens, levado de casa em casa ao longo de várias mudanças, era lixo.

Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas em breve, e para o resto da minha vida.

Na verdade, depois de acabar o resto da minha vida, alguém iria entrar na minha casa, minha mãe ou minha namorada, minha irmã ou uma completa desconhecida, e jogaria aquilo tudo fora. Quem sabe pegasse uma ou outra coisa, por apego, mas não mais que isso.

Minhas roupas, meus livros, meus gibis, meus papéis, minha quinquilharias, simplesmente não caberiam na casa de ninguém.

Poderiam ser vendidos, talvez? Mas quem teria tempo e disposição de parar sua própria vida (sempre atarefada) para separar e catalogar aquilo tudo?

Não sei qual era a minha ideia idílica do que aconteceria (a gente raramente pensa nisso) mas, com certeza, não manteriam minha casa intocada como um santuário dedicado à minha memória, não doariam todos os meus livros para uma biblioteca que abrisse a ala “Alex Castro”.

Nada disso. Minhas pessoas queridas, ainda que me amando muito, simplesmente, provavelmente jogariam tudo fora.

E mesmo, digamos, se minha sobrinha fosse minha fã e quissesse manter o santuário “Alex Castro”, um dia ela também morreria e iria tudo pro lixo, as minhas coisas e as dela. É só questão de tempo.

Então, por que não já não dar um destino a tudo em vida?

Por que não vender pro brechó as roupas que não uso ou pro sebo os livros que já li? Quantos adolescentes não adorariam meus gibis? Não pesquiso mais Guerra Naval: será que a Biblioteca da Marinha não daria bom uso aos livros e documentos que juntei?

E assim fui me livrando do lixo acumulado em décadas e décadas.

* * *

Esse é nosso destino. Passamos a vida produzindo lixo. Até que viramos, nós mesmas, o lixo que alguém irá limpar.

5 respostas em “Nossa vida no meio do lixo”

Eu estou desapegando aos poucos e, pra minha surpresa, fui percebendo que ver os armários e gavetas mais vazios é muito agradável. Então eu quero diminuir simplesmente pelo prazer de ter menos

Ainda falta muita coisas pra desapegar, mas isso é um exercício diário. Ficar somente com o q for essencial, é assim q deve ser. Abraco

Olá Alex! De uns tempos pra cá tenho pensado desta forma. Ninguém vai dar valor uma coisa q guardei durante tanto tempo. Ninguém entenderia o motivo ou valor q aquilo teria pra mim. Como vc disse, as pessoas andam atarefada, mal se preocupam consigo mesmas, que dirá com os outros. Resolvi desapegar também.Dando um destino melhor para as coisas
Ainda

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