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arte

preliminares

pra fazer literatura, não é preciso ser inteligente, articulada, embasada. na literatura, tentamos criar sensações na outra: fazer rir, chorar, sentir medo. é como o sexo, onde você estimula o corpo da parceira, buscando aqui uma cócega, ali uma mordida, quem sabe uma arranhada, talvez uma lambida. é uma atividade quase física que não requer nenhuma inteligência, apenas sensibilidade.

a literatura é uma carícia no clitoris.

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arte zen

compromisso público

não sou guru, coach, terapeuta. não escrevo auto-ajuda.

não quero te convencer, não quero que você mude, não te digo o que fazer, não aponto dedos na sua cara, não te acuso, não te peço para concordar comigo.

não sou melhor que você, não levo uma vida melhor que a sua, não vendo meu estilo de vida.

não debato, não respondo provocações, não me irrito.

agradeço a atenção de quem me lê e, para quem acompanha e gosta, se não for fazer falta, peço uma doação correspondente ao valor que adicionei à sua vida:

www.alexcastro.com.br/mecenato

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arte

entreouvido hoje em uma discussão sobre arte contemporânea no inhotim:

“esse negócio de estar vivo é muito mainstream!”

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arte

explicando a arte contemporânea

inhotim. as cosmococas são cinco instalações interativas de hélio oiticica e neville d’almeida, uma obra para interagir, contemplar, literalmente entrar na arte.

a sala cosmococas 2, “onobject”, tem chão de espuma grossa (onde é difícil andar sem afundar), e objetos geométricos, também de espuma, espalhados pelo chão: cones, cilindros, cubos, esferas. ouvem-se músicas do álbum solo de yoko ono. ocasionalmente, um telefone toca. as luzes estão apagadas e imagens são projetadas em duas das quatro paredes da sala: fotos de yoko, capas de livros.

CC2 ONOBJECT, de 12 de agosto de 1973.

a Outra Significativa e eu estamos deitados na espuma, em um canto, agarradinhos.

de repente, entram dezenas de crianças, uma turma inteira em excursão, já alucinadas, correndo e afundando e pulando na espuma, jogando os objetos geométricos contra as outras, chutando, uma verdadeira força da natureza. (neville e oiticica teriam ficado orgulhosos.)

o primeiro menino a penetrar mais fundo na sala escura topa comigo e com a Outra, ambos encolhidos no chão, tentando evitar chutes e objetos voadores, e trava, visivelmente surpreso:

isso é de verdade?!“, exclama.

arte contemporânea é isso. literalmente. é esse “isso” dito pelo menino surpreso.

* * *

texto escrito no café do teatro, em inhotim, que já é meu lugar preferido do brasil, apesar (talvez por causa) de todas as suas flagrantes contradições. leia mais sobre o inhotim e sobre as cosmococas.

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se eu fosse forte

de vez em quando, acho importante reler essa crônica. todo artista deveria, pelo menos uma vez. mestre albano martins, vulgo branco leone, em sua melhor forma. talvez seja minha crônica favorita.

* * *

Estava lá nas Livrarias Curitiba (em uma só, é claro!), autografando um livro. A certa altura, a fila diminuiu, e aproveitei para abandonar os amigos e meu posto na mesa, para dar uma espiada na livraria. Andava por trás de alguma gôndola, folheando alguma coisa, quando percebi, ao meu lado, um moleque: alto, loiro despenteado e olhos muito sérios grudados num rosto que, à primeira vista, não pertencia aos olhos. Não tinha nem vinte anos, e olhava ao redor, desconfiado, como se estivesse a ponto de me assaltar. Tento aqui reproduzir o diálogo que se seguiu, usando o sotaque dele:

– Foi tu que escreveu aquele livro vermelho?

– Eu e mais nove. – respondi.

– E o SESC nisso?

– Pagou parte da edição, dividiu com a editora. – expliquei.

Pausa.

– Tu é de São Paulo, não é?

– Sou.

– O SESC de São Paulo é foda, né?

– Põe foda.

– Legal.

E voltou a olhar para os lados. Agora vinha o bote, era de se ver.

– Eu também escrevo. – ele disse.

– Ah, é? – simulei algum interesse para não decepcioná-lo, porque não vejo muita graça nesse assunto.

– É. – confirmou ele.

Outra pausa incômoda.

– E o que tu escreve? – perguntei, aproveitando para usar a gramática local.

– Poesia.

– Ah, é?

– É.

Mais uma pausa. Ou ele dava uma mãozinha, ou a coisa desandava: minha dificuldade com poesia é notória.

– Eu canto numa banda de punk-rock. – confessou, usando todos os erres do sotaque curitibano: “panquerrróque”.

– Letras tuas? – perguntei.

– Só.

– Então, é assim que tu publica?

– Não só.

Mais pausa. Eu estava curioso, mas quase desistindo. Era pausa demais, mesmo para quem tem paciência!

– Tu tem um blog? – investi.

– Não. Não tenho Internet. – disse cabisbaixo, como se alguém no mundo a tivesse. – Eu grudo é nos orelhão.

– Hein? – gaguejei.

– Eu escrevo, xeroco e grudo dentro dos orelhão. – me disse, quase sorrindo.

– Você gruda seus poemas dentro dos telefones públicos, e vai embora? – com o susto, perdi o sotaque e a gramática.

– Ué! Tu queria que eu ficasse lá pra quê?

– Besteira minha… Eu quis perguntar se você deixa algum meio de contato junto com os poemas? Um e-mail?

– Não tenho.

– Telefone?

– Não deixo. – parou um instante, e completou: – Eu nem assino.

Fez-se outra pausa, esta provocada pela minha boca aberta.

– Caralho… – consegui murmurar algum tempo depois.

– É… – respondeu ele.

Fiquei olhando aquele alienígena: na minha frente, estava um escritor, coisa rara, um dos poucos que conheço. Um cara que escreve. E só. Na verdade, ele escreve, xeroca e gruda “nos orelhão”. E acabou-se. Opinião alheia? Pra quê? Reconhecimento? Pfff… Sucesso? Não o faça rir. Editora, distribuidora, dez por cento do preço de capa, resenha nos cadernos literários? Ora, nada disso tem nenhuma importância para ele. Ele escreve e sabe que nunca vai chegar a lugar nenhum com isso. É quase como se tivesse vergonha do que faz. Cá pra nós, todos os que fazem isso também deviam ter. E eu lá na livraria, lançando um livro! Pateta…

Foi só depois que ele sumiu pelo meio das pessoas, que me ocorreu de lhe agradecer. Quis lhe dar um livro, sei lá, pagá-lo de alguma forma. Mas ele já tinha ido.

Depois desse encontro, continuei escrevendo. Mas desde então, nunca mais fiz isso com a mesma intenção, com os mesmos princípios. O curitibano vocalista de uma banda de panquerrróque quebrou alguma coisa em mim. Mas tudo bem, era uma coisa que estava estragada.

* * *

eu, se fosse forte, seria esse piá. mas sou fraco.

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arte

as mentiras dos artistas

improvisação teatral, outubro passado.

minha amiga atriz revela: soube naquela manhã que estava grávida.

hoje, nos esbarramos na rua e está quase explodindo, vai parir a qualquer momento.

vida de artista: mentimos na hora de falar a verdade, falamos a verdade na hora de mentir, chamamos isso de arte e ainda cobramos entrada.

* * *

leia também: somos todos fingidores

* * *

vida de artista

a vaidade do artista
quando começa a carreira de um artista?
vida de artista
paradoxo de narciso
o sonho dos meus doze anos

* * *

gostou? compre meus livros, vá nas minhas palestras ou faça uma doação.

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arte

fantasia sexual

adoro mulheres de látex, vinil, couro, corpete, salto alto, todos os apetrechos do fetiche.

muitas das mulheres que amei, amo e amarei adoram de verdade essas roupas e adereços, adoram a sensação física, adoram o poder estético, adoram a simbologia concreta.

por outro lado, sei também que muitas das mulheres que se vestem assim só fazem isso pra realizar fantasias masculinas. para encarnar e satisfazer desejos que não são delas, mas de outros.

então, adoro botas de couro e corpetes de látex, mas uma das cenas que melhor incorpora o meu tesão é essa aqui.

fantasia sexual

essa cena me excita. tenho problemas?

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arte fotos

vigas jogadas

de todas as coisas impressionantes que vi, ouvi, senti no inhotim, a que mais me marcou visualmente foi a obra “beam drop” (2008; em tradução livre, “vigas jogadas”), de chris burden.

durante doze horas, o artista utilizou um guindaste de 45 metros de altura para jogar 71 vigas em uma poça de concreto. (a execução da obra foi registrada em vídeo.)

agora, as vigas estão lá, cravadas no topo de um morro no meio do brasil, refugos da construção civil, cercadas por mato e montanhas.

O resultado desta operação de alto impacto é uma escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha em Inhotim, que se relaciona de maneira marcante com seu entorno, criando uma visão épica em meio à paisagem. O padrão aleatório da escultura é formado pela queda das vigas, combinando o controle do artista, que mirava o guindaste na poça de concreto fresco, à violência e o acaso provocados pelo peso do material. (fonte)

acima, a fotógrafa claudia regina. abaixo, o resultado. (todas as outras fotos são minhas.)

beam drop inhotim, por claudia regina, creative commons
beam drop inhotim, por claudia regina, creative commons
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arte

mantra do artista

não sou tão bom quanto dizem os fãs, nem tão ruim quanto dizem os desafetos.

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classe média sofre

classe média sofre

o tumblr Classe Média Sofre foi criado por mim e por um amigo, em março de 2011. mais tarde, meu amigo abandonou o projeto. em outubro de 2011, assumi publicamente a co-criação e a curadoria do site, que até então era anônimo. não sou o autor nem o dono: o Classe Média Sofre é um projeto coletivo.

tenho um certo orgulhinho bobo do Classe Média Sofre. se não conhece, te convido a uma visita:

classe média sofre

abaixo, as “letrinhas miúdas” do projeto:

As Letrinhas Miúdas

O tumblr Classe Média Sofre é uma instalação artística e literária, virtual e colaborativa, mantida por centenas de colaboradores diários.

O tumblr Classe Média Sofre é humorístico e sarcástico. As opiniões emitidas por nós, as criadoras, seja na barra da direita, nos posts, nos comentários aos posts, etc, são 100% irônicas e não refletem de modo algum nossas verdadeiras opiniões. Caso você não tenha percebido o sarcasmo, por favor, visite esse link. Outro link que pode lhe ajudar: Poe’s Law. Ou leia esses dois artigos.

O tumblr é sarcástico e irônico, mas tomamos cuidado para somente reproduzir manifestações e desabafos sinceros. Não faria sentido reproduzirmos de forma sarcástica e irônica algo que  foi dito de forma sarcástica e irônica. Algumas vezes, porém, bobeamos. Podem avisar. Por esse motivo, muitos comentários com a tag #classemédiasofre jamais serão utilizados – por já serem autorreferentes.

Não mostramos nomes, rostos e identificações por uma questão estética e política. O tumblr Classe Média Sofre não tem como objetivo expor ou ridicularizar ou promover nenhuma pessoa em específico, mas fazer um comentário geral sobre nossa sociedade e sobre todos nós. Protegeremos sempre a identidade de todos, tanto das pessoas citadas quanto dos colaboradores que enviam submissões. Pelo mesmo motivo, não mantemos registros de qualquer tipo, então não temos como dar crédito por eventuais colaborações.

Não perseguimos ninguém. Se você apareceu várias vezes, é capaz de nem termos notado – muitas colaborações já chegam borradas até nós. Por esse mesmo motivo, não podemos garantir que você não vá aparecer de novo. Se você apareceu no Classe Média Sofre e não gostaria de ter aparecido, avise e retiramos do ar.

O tumblr Classe Média Sofre não tem filiações partidárias ou ideológicas. Para fins desse tumblr, a expressão “classe média” é definida de maneira mais ampla possível como “todos os brasileiros, menos os mais nababescamente ricos e os mais abjetamente miseráveis”. O blog poderia igualmente se chamar“Geração Mimimi” ou “Brasileiro Sofre” e seria exatamente igual. Só para constar, segundo o IBGE, a classe média (faixas de renda C1 e C2) corresponde a 43% da população brasileira, com renda familiar mensal entre R$2.905,04 e R$ 8.050,68. (Fonte)

Os autores, aliás, se enquadram, se colocam, se veem, se reconhecem na classe média brasileira. Dessa forma, o tumblr não pode ser visto como crítica, mas autocrítica; um retrato da própria classe média brasileira se olhando no espelho e refletindo sobre si mesma.

O tumblr Classe Média Sofre é, por definição, coletivo e só pode se manter com a participação dos leitores. Não apenas as criadoras tem empregos e precisam ganhar a vida, como também o tumblr não faria sentido se fosse apenas uma seleção dos comentários dos nossos conhecidos pessoais. Quanto mais amplo o espectro de colaboradores, maior e mais precisa será nossa reflexão no espelho.

Aceitamos colaborações de qualquer maneira ou estilo. Como somos preguiçosas, temos uma leve preferência por colaborações enviadas pelo formulário do site, em forma de imagens e com a identificação já borrada.

O tumblr Classe Média Sofre não esconde que se inspirou no tumblr norte-americano White Whine.

Nas suas primeiras quatro semanas, o tumblr Classe Média Sofre obteve mais de 100 mil visitas, 250 mil pageviews, 1.500 seguidores no Tumblr, 400 no Twitter, 300 membros em sua página no Facebook e 500 assinantes do feed RSS. 69 leitoras mulheres quiseram dar pra nós, se fôssemos homens, mas nenhum leitor homem se ofereceu querendo nos comer se fôssemos mulheres. Reflitam.

Temos prazer em falar com a imprensa e em responder a todas suas perguntas, mas nosso prazer em larga medida é derivado do fato que vamos mentir pra você. classemediasofre@gmail.com

Para fins de processos judiciais, saibam que moramos fora do Brasil e que o site está hospedado na Eslovênia, onde divide um servidor com o Cocadaboa. Boa sorte.

As autoras. Ou autores. Ou ambos.

Paris/Curitiba, primavera de 2011.

Repercussão na Imprensa

Matéria “Olhem só o que eu vi agora,” de Rafael Barifouse. Revista Época. Edição 720, 5 de março de 2012.

– Um dos dez tumblrs do ano de 2011 da Revista Superinteressante.

– Exemplo de internet moleque brasileira no Yahoo Notícias.

– Um dos dez tumblrs que bombaram em 2011 da Revista Info.

– Um dos cinco novos tumblrs que você precisa conhecer da Revista Info.

– Um dos dez melhores tumblrs do ano de 2011 do Youpix.

– Um dos memes do ano de 2011 do jornal O Globo.

– Citado por dois repórteres como tumblr do ano de 2011 da Folha de São Paulo.

– Matéria A delícia e a dor de ser classe média – Site aborda com sarcasmo o conservadorismo típico dessa classe social, Jornal do Commércio, 24 de abril de 2011.