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“e pelos coxinhas, ninguém tem empatia?”

um leitor pergunta, em tom de desafio:

“e pelos coxinhas, ninguém tem empatia?”

mas toda nossa sociedade já foi construída e é mantida como um imenso mecanismo para “ter empatia”, ou seja, para passar a mão na cabeça das pessoas privilegiadas.

o policial que “tem empatia” e quer ajudar a pobre loira branca que sofreu uma violência… ignora a cidadã negra favelada que tentou dar queixa da mesma violência.

o médico que “tem empatia” pela dor das pessoas brancas… dá menos anestesia para as pessoas negras.

nos escritórios, há muita “empatia” pelos pobres homens calorentos vestindo terno e nenhuma pelas mulheres friorentas de perna de fora. etc etc.

os exemplos poderiam continuar ao infinito.

então, não.

não são as pessoas privilegiadas que devem levantar os braços e pedir:

“poxa, e pra mim, não tem empatia?”

pelo contrário, são os homens que têm que ter empatia pelos problemas das mulheres, são as pessoas brancas que têm que ter empatia pelos problemas das pessoas negras, são as pessoas que moram em apartamentos de três quartos no eixo morumbi-leblon que têm que ter empatia pelas pessoas que precisam de bolsa-família para sobreviver.

meu trabalho é ensinar as pessoas privilegiadas a terem mais empatia pelas menos privilegiadas, e não a dominarem um novo vocabulário para exigir ainda mais privilégios:

“poxa, pelos empresários ninguém têm empatia, né?”

* * *

esse é o tema principal do meu livro outrofobia: textos militantes. se o assunto te interessa, experimente ler.

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outrofobia, textos militantes

Outrofobia. s.f. Rejeição, medo ou aversão ao outro. Termo genérico utilizado para abarcar diversos tipos de preconceito ao outro, como machismo, racismo, homofobia, elitismo, transfobia, classismo, gordofobia, capacitismo, intolerância religiosa etc.

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outrofobia Capa

Outrofobia, textos militantes. (Editora Publisher Brasil, 2015.)

Esgotado: tente na Amazon Brasil.

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Uma coletânea dos meus melhores textos políticos, sobre racismo, feminismo, transfobia, privilégio.

Textos de luta. Feitos para incomodar, despertar, cutucar.

Não são textos acadêmicos. Não trazem fatos novos, formulações originais, pesquisa primária, questões aprofundadas.

Eu jamais presumiria “ensinar” racismo para pessoas negras, feminismo para mulheres, transfobia para pessoas trans*.

O objetivo desse livro é tentar abrir os olhos das pessoas privilegiadas.

* * *

Conteúdo

Prefácio, por Aline Valek

Sobre um uso da língua menos sexista e mais humano

Pra começar

Uma história de quatro pessoas

Racismo

Senzalas & campos de concentração

O peso da história: a escravidão e as cotas

Imigrantes sim, mas de que cor?

Racismo, miscigenação e casamentos interraciais no Brasil

Feminismo

Feminismo para homens, um curso rápido

A fácil paternidade

Cavalheirismo é machismo

O papel dos homens no feminismo

O segredo de beleza dos homens

Conversando sobre transfobia com uma criança

Faixa-bônus:

Como se sente uma mulher, por Claudia Regina

Privilégio

Carta aberta às pessoas privilegiadas

O assunto não é você

Ação de graças pelos privilégios recebidos

Carta aberta às humoristas do Brasil

Pra encerrar

O desabafo da moça do crachá

O baralho viciado

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Capa, contracapa, orelhas

Clique na imagem para ver em tamanho maior.

Outrofobia capa isabel final 19nov14.pdf

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Prefácio, de Aline Valek

Não gostar do Alex Castro foi a minha primeira reação. Foi até natural: quando descobri seus textos, descobri também que eles me provocavam certo mal-estar. Era comigo que eles falavam. Era pelo meu braço que eles me agarravam, sacudiam e ainda tentavam me arrastar para fora das linhas que delimitavam a minha zona de conforto.

Não encontro outra forma de começar a não ser com todo esse narcisismo: o que esses textos ME causaram, como eles pareciam ser escritos para MIM, como EU me senti. Eu. Eu. Eu. Porque, de certa forma, esses textos foram o aríete a derrubar meu ego para que eu pudesse enxergar a mensagem: o mundo não é sobre você.

Quão péssimo pode ser encarar essa verdade?

As páginas a seguir podem trazer o mesmo desconforto. Não é fácil digerir a possibilidade de ser um outrofóbico, alguém incapaz de perceber as outras pessoas e de se solidarizar com qualquer drama que vá além das paredes do seu mundo pessoal. Mas ninguém disse que se tornar uma pessoa melhor, mais empática e menos babaca, seria um passeio no parque.

A escrita de Alex Castro está aí para facilitar um pouco esse trabalho. Em ficção ou temas sérios, Alex consegue prender a atenção com uma linguagem constrangedoramente direta e não tem medo de te conduzir às mais profundas questões humanas, mesmo até aquelas das quais você talvez preferisse manter distância. É uma leitura que exige alguma coragem; Alex escreve como quem busca uma conversa franca. Aliás, Alex escreve como fala em seus encontros sobre As Prisões, dos quais já participei uma vez: enquanto fala dos costumes, tradições e preconceitos que arrastamos pela vida como bolas de ferro mentais, ele conta histórias e traz questionamentos provocadores, sem se importar se isso vai perturbar ou destruir todas as certezas de quem ouve. Tudo isso falando com muita calma, sentado bem à vontade sobre as pernas cruzadas e ainda preparando um cachimbo.

Tendo em mente esse cara zen e despreocupado, que ouve com tanta atenção, fica difícil se manter na defensiva contra um suposto escritor malvado apontador-de-dedos que quer um conflito com você. Porque o assunto aqui não é você, mas tampouco Alex. Se não é sobre leitor nem autor, é sobre quem?

No seriado Lost, sobreviventes de um trágico acidente de avião se veem perdidos em uma ilha misteriosa. Os protagonistas estão vulneráveis, desesperados e confusos; quando percebem que eles não são os únicos habitantes da ilha, bate um terror. Em vários episódios, quando nossos heróis e heroínas estão andando na selva, ouvem vozes por todos os lados. Ouvem passos. Quando se escondem, são capazes de ver pernas de homens, mulheres e crianças passarem por eles. Começam a chamá-los de Os Outros. Pessoas que eles não sabem quem são, o que fazem, onde vivem e o que querem com eles – e, por isso mesmo, só podem ser uma ameaça.

Somos, em alguma medida, esses protagonistas nesse exato momento da história. Sabemos que não estamos sozinhos, mas não conhecemos aqueles que dividem o mundo, essa ilha misteriosa, com a gente. Os Outros são apenas sombras que passam por nós na floresta e vozes que ouvimos ao longe, mas não conseguimos distinguir o que dizem. Temos medo d’Os Outros. Passamos a desenvolver mecanismos de defesa para nos proteger dessa ameaça que Os Outros possam representar e fechamos a escotilha de nós mesmos para não precisar entrar em contato com eles.

É no sentido de desconstruir essas muralhas invisíveis e de nos abrir para o conhecimento do Outro que Alex escreve. O assunto aqui são Os Outros: justamente esses que fomos ensinados a ignorar, a não ouvir, a tratar como inimigos.

É isso que torna a leitura de Outrofobia tão difícil e, ao mesmo tempo, tão necessária. Se você for capaz de se abrir para essa proposta, já terá dado o primeiro passo para se abrir também a uma visão mais humana do mundo. Garanto que pode não ser agradável, mas o mundo sem empatia já não é um lugar muito suportável.

Aline Valek, escritora e feminista, publica seus textos na Carta Capital e no site alinevalek.com.br, e é co-criadora do projeto de ficção científica feminista “Universo Desconstruído”.

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outrofobia Capa

Outrofobia, textos militantes. (Editora Publisher Brasil, 2015.)

Compre no site da editora, da Livraria Cultura, da Livraria da Travessa.